Eu sou apaixonada por gente que se basta. Que não tem mimimi, tempo ruim, frescura, que não se esconde atrás de desculpas esfarrapadas, muito menos se vitimiza por não fazer parte de uma convenção social. Eu gosto é de gente que assume a sua solteirice com muito orgulho simplesmente por não se contentar com farelos e migalhas. Quem não dispensa um happy hour com um casal de amigos por se sentir desconfortável sendo “vela” na mesa do bar. Das pessoas que enfrentam sozinhas a fila do cinema sem se incomodarem com a sua própria companhia. E admiro mais ainda todo mundo que coloca a cabeça no travesseiro todas as noites tendo a certeza que a autenticidade, o livre arbítrio, e a maturidade de ser fiel aos seus próprios padrões e sentimentos continuam sendo sempre a melhor escolha. Não importa o que a revista tentou te vender ou o que a sua tia na festa de natal tentou te fazer desacreditar.
Cada pessoa precisa ter a liberdade de ser exatamente quem se deseja ser. A vida não pode ser percorrida tendo em função uma pessoa, um relacionamento, um romance externo que não aquele que deveria existir com o seu amor próprio. Acontece rapidamente para uns, mas não acontece para outros. A vida é assim. Esperar que a gente se afogue num poço de desespero e solidão simplesmente porque não tem um parceiro(a) para levar ao casamento do melhor amigo é uma ofensa gravíssima à identidade e ao direito de cada um de ser sim, sozinho.
É verdade que tem gente que se esconde atrás de relacionamentos submissos e abusivos, unicamente para preencher um requisito social ou ostentar um status de “relacionamento sério”, para se negar a fazer parte do time dos que não têm sorte no amor. Tem ainda quem investe seu tempo, sua paciência e seu bom humor tentando agradar a família, os vários “amigos” da rede social ou ao seu próprio ego que se recusa a se sentir de qualquer forma inferiorizado. Para estas pessoas o processo de deterioração pessoal e emocional é lento, degradante e inegavelmente sofrido. Porque ninguém no mundo consegue sustentar por muito tempo uma felicidade moldada, adaptada e sob determinada perspectiva, forçada.
É absurdamente mais recompensador arcar com os custos de ser a gente mesmo, com todos os obstáculos que a nossa travessia impõe, do que ser uma reles marionete da opinião e do julgamento de quem nada tem a ver com as nossas decisões. Perder um monte de oportunidades de lazer, bem-estar e descontração puramente porque a sociedade pré-conceituosa não está acostumada com o olhar altivo e sedutor de quem leva a vida com leveza e tranquilidade está totalmente fora de cogitação. Por isso eu sou enlouquecida por gente que curte até o último fio de cabelo da sua risada mais gostosa, porque gente assim não tem medo de viver. E a vida precisa é de coragem e não de um punhado de regras e princípios culturais que me impedem de curtir um rock numa sexta a noite sozinha.
A gente precisa se bastar. Nosso olhar, nosso perfume, nosso sorriso, nossas crenças, precisam ser mais do que suficientes para abrigar uma rotina deliciosa, sem depender de nada, nem de ninguém. Estar ao lado de alguém é maravilhoso, mas estar ao lado de alguém sabendo que a relação agrega, soma, suplementa o dia a dia com milhares de sensações extraordinárias é melhor ainda. Sair do nosso mundinho único, que deve ser infinitamente especial, só vale a pena se o universo lá fora oferecer experiências melhores do que aquelas que a gente se permite sozinhos. Enquanto isso a gente vai assistir à estreia do filme tão esperado sim, vai acompanhar o casal de amigos na balada sim, vai tomar uma taça de vinho no meio daquela semana puxada sim, e vai ser feliz sozinho sim, porque atrelar nosso melhor sorriso a condições que estão fora do nosso alcance é fantasioso, insensato e amargamente incoerente. Aliás, sozinhos não, cercados por um monte de amigos que respeitam nossas escolhas e entendem nossos limites.
Quem se sentir a vontade para se juntar a nossa espontaneidade que seja muito bem vindo. Quem só assiste de longe para presumir, qualificar, e analisar nossas vontades e atitudes com base em um pragmatismo cultural fora de moda, pode fazer o favor de sair pela porta da rua e deixar a cópia da chave ao lado do copo de bom senso. Definitivamente não é fácil manter a bola no alto o tempo todo. Mas tudo nessa vida é questão de hábito e prática. Quando a gente se acostuma com o som da nossa gargalhada tudo fica muito mais aprazível. Porque a gente finalmente entende que não precisa estar no meio de um tumulto para se aconchegar em um abrigo. A verdade quem sussurra é só o coração da gente, e esse quanto mais a gente fica em silêncio, no conforto da nossa calmaria, mais alto ele consegue pulsar.