• A culpa é de quem namora você
  • A culpa é de quem namora você


    Típica situação cotidiana: você vê a fulana quebrando o pau e chamando alguma guria de vagabunda pra baixo porque ela supostamente se envolveu com o namorado da fulana. O tal cara, o machão, não tem culpa nenhuma, imagina. A fulana é a corna da situação. E a terceira menina? Piranha, com certeza. Alguém duvida de tudo isso? Eu duvido. E não duvido pouco.

    Tem algumas coisas muito erradas na forma como a gente vê essa situação. Começando pelo fato de que, se duas pessoas estão em um relacionamento monogâmico e assumiram condições de lealdade e fidelidade, por que a terceira pessoa é que tem culpa? Essa visão de que o terceiro elemento é sempre o fator que desestabiliza, a pessoa que destrói lares, a tentação no meio do caminho só serve pra amenizar o fato de que o tal namorado, um ser pensante (espera-se), escolheu trair a tal namorada. O delito é inteiramente do camarada cara-de-pau que pode ter tanto cedido às investidas de alguém quanto investido ele mesmo.

    E aí já começa uma brecha: não acho que uma terceira pessoa seja culpada por dar mole pra alguém que namora. Ela não tem o menor compromisso com o casal, não foi ela quem decidiu mudar o status do relacionamento no Facebook pra todo mundo ver. Podemos considerar falta de tato e consideração? Podemos. Mas consideração por quem, gente? Quem tá no relacionamento não é ela, não é ela quem deve consideração alguma.

    Voltemos o olhar pra quem, repito, escolheu conscientemente trair: a parte envolvida no casal. Cabe ao envolvido cortar a pessoa de fora que talvez tenha ultrapassado os limites da simpatia e começado a dar mole. Se ele não cortou, bora lá admitir de peito aberto que a culpa é inteirinha dele – e mesmo que você não queira dar 100% da cota de culpa pra ele, há de admitir que pelo menos 90% pertence ao camarada. Ponto final.

    Outra perspectiva que me intriga nessa situação é a forma como o peso sempre recai sobre a mulher. A terceira pessoa é escrachada em praça público com a maior variedade de xingamentos de gênero (importante ressaltar) que você possa imaginar. E o cara, no máximo, sai com o título de babaca. É sempre a mulher quem rouba o namorado da outra, é sempre a mulher que sai com a culpa registrada no cartório. Não só se ela for a terceira pessoa, como se for envolvida no casal. Pipocam acusações de que ela não oferecia em casa e ele teve que procurar na rua, de que ela sufocava e ele quis brincar etc. E pro cara? Nada, nadica de nada. Preciso dizer quão clara é a condição machista com a qual julgamos a situação? Preciso. Por mais claro que esteja, vamos sempre encontrar uma forma de vitimizar o homem e culpar a mulher. Vamos sempre passar a mão na cabeça de quem deveria estar no barco com a gente e culpar algum passageiro que se aventurou por terras (des)conhecidas. Vamos sempre jogar a culpa pro lado mais fraco da corda, porque assim arrebenta logo de uma vez e a gente não precisa ter que lidar com o problema de verdade. Simples assim.

    ass-dani


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