Faz um tempo que você entrou na minha vida e fez dela ainda melhor do que era. E eu sei que nunca te disse aquelas três palavras que mesmo tão proferidas aleatoriamente por aí, ainda são muito boas de falar e de ouvir. Eu não acho que errei. Só estava esperando o momento em que sentisse segurança suficiente pra isso. Você me conhece bem e sabe, eu levo muito a sério essas coisas. O amor não é algo pra ser banalizado.
É que depois de vários anos e algumas desilusões, a gente fica meio endurecido, aprende a se proteger melhor e, às vezes, passa do ponto, acaba exagerando, meio que blinda o próprio coração. Hoje, eu resolvi abrir o meu pra você e te dizer como me sinto. Talvez eu esteja me arriscando muito nisso. Ao te deixar adentrar assim, me sinto como se estivesse dando a senha de uma conta bancária alta pra alguém ter livre acesso, sabe? Mas sei lá, dane-se… Você parece valer a pena e estou absurdamente disposta a correr esse risco… por você e por mim.
Você chegou numa época em que eu estava acostumada aos jogos individuais do meu videogame, de escutar só as minhas músicas preferidas no carro e de comer o brigadeiro todo da panela sozinha. Eu estava curtindo tanto a minha rotina quase egoísta, essa coisa de ser a única dona da minha cama de casal e de comprar os meus próprios presentes. Adorando o fato de fazer apenas os programas que eu gostava quando e como bem entendia e de ter a sensação de poder me mudar pro Azerbaijão amanhã, se quisesse, sem olhar pra trás. E você, cara, você complicou tudo isso, bagunçou as coisas, me tirou da minha linda zona de conforto.
Achei que seria difícil, mas você veio quase imperceptível, foi ficando por mais um dia, por mais uma noite, pra mais uma taça de vinho e pra mais uma xícara de café. Quando dei por mim, você já estava instalado aqui dentro do peito e não dava mais pra, simplesmente, expulsá-lo assim. Eu já estava claramente e completamente envolvida. Até o porteiro do prédio percebia… Aquela menina sempre tão pé no chão, vivia agora nas nuvens.
Logo vi que você não tinha exatamente as características que eu, no passado, apontei como essenciais em um homem. E isso foi o que mais me surpreendeu em você. Como pode alguém tão diferente do que eu sempre quis, ser exatamente o que eu quero? Temos várias opiniões que batem, alguns gostos que se opõem, personalidades diferentes, jeitos semelhantes de lidar com as situações.. É, é meio confuso, eu sei… Só que, lá no final, a gente se acha no meio da bagunça toda e percebe que encontramos algo que nunca sequer havíamos buscado antes.
Você me provou na prática que não existe ninguém nesse mundo feito a partir do mesmo molde da gente e que encontrar alguém que reconheça que as diferenças são, na verdade, oportunidades de se melhorar como pessoa e como casal, é a grande sacada de tudo. Eu sei que já sou vacinada nessa vida, porém é difícil ficar imune a isso tudo. Depois desse tempo juntos e de tantas noites em claro falando ou fazendo coisas malucas, é impossível, não dá.
Sei que eu fiquei em dúvida sobre o que estava sentido, procurei entender, não consegui. É que existem muitas ‘definições’ para o amor e nenhuma delas ajuda muito nessas horas. Na verdade, é compreensível. Ninguém conseguiu e nem conseguirá definir nenhum sentimento… Porque sentimentos não são exatos, são tortos, não são medidos, meio que sobram nas bordas, não são explicados, são sentidos, não são estáticos, estão em constante movimento e aperfeiçoamento. Pra mim, o amor é ainda mais indefinível porque não tem começo e nem fim, ele apenas se transforma e a gente vai evoluindo junto.
E que saber? Acho que alguma coisa está se transformando aqui dentro e não dá mais pra disfarçar pro mundo algo que, pra mim, está mais do que nítido. Já me decidi, se alguém perguntar o que é, vou dizer algo que o Rogério Flausino já disse tantas vezes antes: “Se isso não é amor, o que mais pode ser? Estou aprendendo também”. Ah, e como é bom aprender isso assim dia após dia… Com você.