• O que tem de ser tem muita força
  • O que tem de ser tem muita força


    Se existe uma coisa que eu amo tanto quanto batata frita são as voltas que o mundo dá. Hoje estamos aqui, amanhã acolá, pode chover, fazer sol, a balada pode virar cinema, e quando menos se espera aquela pessoa especial que durante muito tempo nem quis saber de você, aparece ali, com a cara mais lavada do mundo na porta da sua casa (ou no bipe do seu whatsapp). A vida não avisa que vai dar um giro de 360º, ela simplesmente dá. O problema é quando envolve amor. Quando a gente finalmente deu a volta por cima depois de inúmeras doses de tequila, ele avisa que quer voltar a buscar abrigo aqui, no conforto da nossa resiliência. E aí me diz, como é que se diz não para o amor?

    Às vezes é um romance antigo, desses que ficou engavetado por falta de atitude, de coragem, de espaço na agenda. Ou não, é aquele típico caso de “agora que já me esqueceu, estou pronto(a) para você”. Arestas. Qualquer tipo de fissura na alma que possa escancarar uma fragilidade é endereço certo para uma reviravolta do destino. Histórias mal resolvidas, vírgulas, reticências, capítulos em branco que ficaram a espera de um adeus, ou de um convite para jantar. O dilema é que não tem como fugir, ou a gente permite entrar, ou tranca de vez o caminho da saída.

    Tudo depende da importância que, hoje, aquele sorriso tem para nós. Pode ser que o encanto tenha deveras acabado e restaram apenas uns devaneios bobos de como era bom quando vocês ainda se falavam. Mas pode ser que o coração ainda esboce taquicardias quando escuta falar daquele alguém. O legal dessa coisa toda que envolve o inesperado é que o acaso também não sabe o que vai encontrar quando pedir licença na nossa serenidade. O universo gira e com ele as pessoas, as atitudes, a forma de ver a vida, as vontades. O outro talvez não seja o mesmo de ontem, assim como você também não é. É possível sim que aquilo que não deu certo um dia, encontre agora terreno fértil para cultivar um jardim bem bonito. Tudo depende do timing, e porque não, dos desejos.

    Sempre acho que a gente deve deixar ir o que não pertence ao nosso momento da maneira mais graciosa possível. Porque a gente nunca sabe quando determinada oportunidade vai se repetir. Algumas são únicas, outras nem tanto. O que tem de ser tem muita força e o que não tem também. Talvez não fosse a hora lá, quando se despediram magoados jurando nunca mais refazer aquele caminho. Talvez fosse hoje, mais maduros, experientes, calejados, aptos a fazerem escolhas melhores. A vida tem disso, chama-se sabedoria. Colocar na nossa travessia somente aquilo que podemos lidar naquele momento.

    O universo dá muitas e muitas voltas, ainda bem. O que não dá é para ficar remoendo dor que já se esgotou, querendo dar o troco, retribuir o sofrimento, levantar soberano do fundo do poço. Vai ser feliz gente! Se ainda faz diferença abraça, aceita e ama. Todo mundo erra, pré-julga, fica com medo, com fome, com frio, indiferente, em dúvida. Todo mundo já esteve diante da possibilidade de dois amores e de tanto racionalizar acabou sem nenhum, ou ficou receoso de não conseguir retribuir os sentimentos do gato(a) por estar numa fase mais desapegada e esperou terminar para se dar conta de que era ele mesmo que você queria. Que atire a primeira pedra quem nunca se arrependeu de uma escolha equivocada. Acontece! Até o que machuca encontra um propósito na palavra amor.

    Sim, este é um texto sobre segundas chances, mas principalmente, sobre a quantidade de tempo que a gente perde querendo ser superior. Bem no fundo (ou nem tanto), quando estamos no auge da dor de cotovelo, a gente deseja se teletransportar para aquele dia em que iremos acordar lindas, loiras e superadas para esfregar na cara das coincidências. É ótima esta sensação, não vou negar, mas passa. O que também pode passar é a chance de ser verdadeiramente feliz. Se vale a pena, se joga. Quando se trata de amor o risco nunca é calculado. Vestibular, concurso, carteira de motorista, emprego, tanta coisa que a gente não consegue engatar de primeira, com o coração não seria diferente. Se foi é porque não era para ser. Se voltou é porque pode ser melhor (ou porque ninguém aceitou a investida para sair). Nesse caso mais uma tequila enquanto a gente espera uma nova rodada da vida, e muito discernimento para entender o que merece continuar onde está e o que nunca deveria ter saído da nossa travessia.

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