Nunca comprei essa história de que opiniões são invioláveis. Expressões como “gosto cada um tem o seu” e “religião não se discute” não fazem o menor sentido porque toda evolução passa pela desconstrução.

À medida em que os tribunais das redes sociais se solidificam e qualquer pessoa tem acesso fácil e rápido à informação online, a descontrução vai se tornando um fenômeno cada vez mais vertiginoso: tudo é discutível, discordável, problematizável – e que bom por isso.

Acontece a mesma revolução tecnológica, por assim dizer, que se bateu à nossa porta a partir da popularização das redes sociais, criou também uma legião de pessoas que caminham curvadas pelo peso de seu próprio ego – e não há nada mais destrutivo dentro de uma discussão, seja ela qual for, do que pessoas tomadas pelo ego.

Tenho visto pelas timelines da vida – um belo laboratório, diga-se de passagem – discussões intermináveis sobre assuntos absolutamente estúpidos: uma celebridade que resolveu escrever um livro, uma banda que cobra caro demais por seus shows ou alguém que deu uma declaração polêmica na televisão.

A impressão que se tem é que perdemos completamente o fio da meada: no final de discussões massantes – online ou não – nada foi desconstruído, nenhuma semente foi plantada, nenhum consenso foi atingido: apenas os egos se inflaram até ficarem prestes a explodir. Alguém teve a oportunidade de ser visto, e julgado, e likado. Nenhuma consciência foi tocada e nada mudou. Apenas falou-se muito e inutilmente.

É claro que cada discussão, por mais medíocre que possa parecer, merece existir, desde que não se pessoalize negativamente este hábito simples, corriqueiro e antiquíssimo que é compartilhar pontos de vista em busca de um denominador comum ou de simplesmente – porque não? – apenas ampliar os horizontes da consciência.

As pessoas não precisam concordar conosco sempre, nem mesmo quando estamos certos. “Cada um de nós é um universo”, diria o grande Raul. Aceitar serenamente contrariações significa mais do que maturidade para saber que quando alguém nos contraria não necessariamente deixa de nos apreciar. É também entender – sem se deixar engolir pela assustadora revolução do ego – que o papel de toda discussão é e sempre será apenas evoluir.

ass-nathalie


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