• Que tal começar aprendendo a tirar o sutiã?
  • Que tal começar aprendendo a tirar o sutiã?


    “O apressado come cru”, afirmava a minha avó nas vezes em que eu invadia a cozinha para tirar uma lasquinha do almoço que ainda nem estava pronto. Na época, eu não muita dava bola às porções de sabedoria da nonna porque estava muito ocupado dando bola à pelota de capotão, a um estilingue feito de jabuticabeira e ao meu exército de Comandos em Ação. Hoje, mais de vinte anos depois, vejo que a melhor cozinheira que já pisou neste planeta estava certíssima em relação ao apressado. E vejo apressados derrotados pela própria pressa – e impaciência – em todas as partes…

    As cozinhas desta galáxia, por exemplo, estão lotadas de “pseudomasterchefs” que, antes mesmo do aprenderem a fritar ovos, já se metem a fazer pratos flambados que exigem um currículo com, no mínimo, sete risotos, vinte churrascos e dez panquecas que conseguiram voltar à frigideira em segurança. Resultado: cozinhas pegam fogo, cachorros comem o que não devem e pizzarias com delivery faturam mais.

    Nas escolas de inglês também há uma enxurrada de apressados, ô se há! Gente que, muito antes de conseguir pronunciar “the book is on the table” e “happy birthday to you”, já quer cantar raps americanos que, de tão rápidos, são difíceis até para seres que falam inglês desde que nasceram. E adivinha? Passam vergonha, obviamente. Nada contra, pois também pago micos em karaokês e chuveiros, mas, se não tentassem pular do verbo “to be” direto pro Eminem na velocidade 6, com certeza, apresentariam algo menos Joel Santana acelerado.

    Onde mais eu percebo pessoas que comprometem a qualidade do resultado final porque pulam o aprendizado de etapas essenciais? Nos esportes. Quem não conhece um peladeiro que, em vez de treinar o básico (passe simples, chute de chapa, cabeceio…), só quer saber de firulas (bicicleta, drible da vaca, toque de letra…)? Eu conheço uns doze, no mínimo. Nada contra as firulas, mas, antes de fazê-las, faça-me o favor de aprender aquilo que é essencial, como parar de acertar a lua quando precisa acertar o gol. No Jiu-Jitsu, esporte que pratico, vejo o mesmo: faixas brancas querendo aplicar golpes voadores – e difíceis até mesmo para faixas pretas – antes mesmo de aprenderem o mais básico: amarrar a faixa. Nem preciso dizer que passam vergonha, né? Mais um esporte no qual os apressados, por desdenharem ou desconhecerem a necessidade de conhecimento básico, apresentam performances lastimáveis? O sexo. Ou vai me dizer que o sexo não é um esporte? Opa se é! E não entendo por que ainda não se tornou olímpico.

    O cara ainda nem descobriu a enorme diferença entre a xoxota e o cu e, mesmo assim, sempre cisma em tentar aplicar a posição cachorrinho-contorcionista-kamikaze-invertida do Kama Sutra – modalidade sexual que, na Índia, devido ao grau de periculosidade, já matou mais gente do que tigres, selfies e selfies com tigres. Matou, inclusive, gente com horas e horas de sexo tântrico e acrobático nas ancas. E pior: o cidadão tentou mandar essa peripécia com você, na primeira transa, depois de dar duas lambidas miseráveis que nem molharam sua pepeca e de demorar um Faroeste Caboclo e meio November Rain pra conseguir tirar seu sutiã. Frustrante, tô ligado. E você acha que foi a única vítima dele? Não, óbvio que não! Fontes confiáveis me disseram que há pouco tempo ele quebrou o cóccix de uma menina. Como? Tentou comer a mina da mesma forma que o Frota no filme Devoradores de… Mas o Frota é treinado, porra! Já fez de tudo nesta vida. Ou você acha que ele, com treze anos, já equilibrava moças na piroca?

    E sabe o mais bizarro? Homens como o cara do parágrafo anterior realmente acham que só conseguirão impressionar se fizerem piruetas e pirocópteros com o pau. Coitados. Mal sabem eles que, se focassem as energias no aprendizado do básico – no sexo oral que não lembra uma lesma desgovernada sob efeito de ecstasy e no papai-e-mamãe que encaixa gostoso e flui de acordo com as demonstrações de prazer da moça -, já sairiam na frente da esmagadora maioria. É sério. Alguém precisa avisá-los de que mais vale um o arroz e feijão bem feito do que um Boeuf Bourguignon (não me perguntem o que é isso, achei no Google) preparado por alguém que, ainda ontem, procurava por tutoriais que ensinam a descascar tomates. Sacaram a analogia? Claro que sacaram… Mas eles, os caras que resolveram pular da punheta pro 69 vertical sobre esquis, não! Pois precisam de algo mais direto, como: um papai-e-mamãe bem feito vale mais do que um lobo-guará-arretado-carpado-intrépido (posição número 12 do Kama Sutra versão tupiniquim) feito por alguém que, apesar da elasticidade corporal, ainda acredita que a mulher só possui duas zonas erógenas (a vagina e os seios), e que nem sonha com a importância de estimular o cérebro delas.

    Não estou sugerindo que os homens desistam do Kama Sutra e de manobras sexuais radicais, que fique bem claro. Sugiro, apenas, que comecem pelo bê-á-bá antes de se arriscarem em repentes em latim, ou seja, que aprendam primeiro o básico (a hora em que penetrar não machucará; que velocidade não é sinônimo de qualidade; se ela está dando indícios de que está curtindo, não mudar de posição…) antes de partirem para algo mais ninja. O mesmo vale para as mulheres que, muitas vezes, assim que perdem a virgindade, já querem dominar a arte milenar da garganta profunda, esquecendo-se de coisas mais primordiais, como fazer boca de banguela na hora do boquete e que até mesmo os homens brutos têm bolas frágeis (menos o Chuck Norris, claro, que tem, dentro do saco, uma miniatura do Zé Aldo e uma do Anderson Silva).

    “Aprender a amarrar os cadarços é o primeiro passo para aquele que deseja um dia chegar ao cume!”, que tal? Pensei agora, juro. E estou pensando, seriamente, em colocar essa frase dentro de biscoitos da sorte e da embalagem de camisinhas, o que acham? Só espero que os apressados não sejam burros o bastante para comerem o biscoito com bilhete e tudo e se esquecerem da camisinha.

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