Cobrar é muito fácil. Julgar a postura do outro sentado em uma poltrona na nossa zona de conforto também. Normalmente temos concepções muito claras sobre aquilo que queremos ou não. Se preenche a nossa lista de predicados bem, caso contrário, amém. Até aí tudo bem, todo mundo tem o direito de buscar aquilo que melhor vai se encaixar na sua vivência. O problema é quando a gente se esquece de olhar para o próprio umbigo e encara a coisa toda como uma “obrigação” unilateral. Para receber um amor tão puro e verdadeiro é preciso merecer. Não adianta só exigir.
Sentimentos grandiosos vêm com responsabilidades ainda maiores. É muito comum o ego cegar a relação inteira a ponto de um dos lados só reclamar e o outro, muitas vezes cansado, só aceitar as imposições. Não é bacana nem para quem critica, pois tende a cultivar sempre a soberania e a insatisfação, muito menos para quem é criticado, que pode se sentir incapaz de amar alguém de forma plena. Relacionamento é um balanço equilibrado por dois. Se algo não vai bem muito provavelmente ambos têm culpa no cartório. Não adianta jogar a bola murcha para o outro lado do muro, a brincadeira acaba para todos.
É preciso parar de esperar por aquela felicidade hollywoodiana completamente impecável e perfeita para começar a merecer o amor de verdade, pé no chão e realista que o cara ou a garota ao seu lado está tentando arduamente oferecer. Apontar defeitos que não são nossos e rejeitar atitudes que não condizem com a nossa visão de comportamento moldada midiaticamente é muito simples. Quero ver é assumir que talvez, só talvez, você também possa não ser o que o seu parceiro(a) sempre sonhou. E aí, como a gente lida com a rejeição nesse caso?
Seja digno do amor que você acha que merece. É um daqueles romances que atravessam montanhas, desbravam mares e movem moinhos, então ótimo, seja a pessoa pela qual isso tudo vale a pena. Encare um personagem igualmente maravilhoso e majestoso. Não precisa andar 100% nos trilhos, afinal de conta somos seres humanos feitos de carne, osso e impulsividade. Basta fazer jus a tudo o que você anseia de uma relação. É paciência, ofereça compreensão. É zelo, oferte cuidado. É inovação entre quatro paredes, invista regularmente em brincadeiras para apimentar os lençóis.
Teoricamente não é complicado, só que na prática é muito diferente. Tem a grama do vizinho que parece melhor do que a nossa, tem todas aquelas expectativas que são construídas ao longo de uma vida de desilusões amorosas, tem o ego, a necessidade de estar sempre certo, e claro, tem aquele bichinho chamado preguiça que acredita que ter é melhor do que ser. Acontece que, se não somos um bom partido de duas uma: ou o amor da nossa vida vai embora e acabamos sozinhos, ou ele fica por pena. Parece óbvio, mas vai por mim, não é. Em qualquer uma das hipóteses a gente não é feliz. Ouviu?!
Mereça. Antes de qualquer coisa faça uma autoavaliação de frente para o espelho e se pergunte: eu seria realizado se tivesse ao lado alguém igual a mim? O que eu tenho para compartilhar pode mudar o mundo de alguém para melhor? Se a reposta for sim para as duas perguntar parabéns, você entendeu direitinho o que significa a palavra parceria. Se a negativa se sobressair volte duas casas, peça desculpas pela bagunça e melhore. Apenas, melhore.
Ser uma pessoa mais humana na relação não é garantia de que a história vai durar para sempre e também não serve de algema para prender ninguém onde ele não se sente em casa. Mas a gente fica mais próximo da maturidade. Nada melhor do que a consciência tranquila de que a nossa parte foi feita, a entrega foi total, porém o outro que não soube retribuir. Merecimento é uma arte. Pena que muita gente entra na dança muito tarde. Se eu fosse você aí se apressava. O amor é feito de urgências e gosta de cada coisa em seu lugar: nada de admirar a vida de cima para baixo, o negócio é olho no olho. Quem não é capaz de encarar o seu próprio reflexo na alma de alguém, não merece a sorte de fazer parte da sua travessia. Simples assim.
