Todo mundo erra, o problema é justamente assumir a pisada na bola. Pedir desculpas é tão difícil que tem gente que prefere perder uma pessoa querida simplesmente para não descer do salto e confirmar a culpa no cartório. Mexe com o nosso ego, bagunça as nossas bagagens, aperta bem no meio daquela nossa vontade insistente de querer estar sempre com a razão. Aceitar o deslize exige humildade. Expor as nossas fraquezas para quem quer que seja, também.
Em um relacionamento, bater o pé no chão e manter firme a postura inflexível de quem não vai se redimir pela falha é falta grave. Os dois podem até optar por deixar a história de lado e seguir em frente. Mas acredite: cedo ou tarde a mágoa vem à tona. Quando for a vez do outro de ser maduro, de dar dois passos atrás para que vários possam se seguir adiante, apenas não vai valer a pena. Se o amor nesse caso não é via de mão dupla qual o objetivo de ostentar um cuidado unilateral?!
Admitir que não agiu legal em determinada situação é um dos maiores gestos de respeito em uma parceria. Vai muito além de puramente voltar atrás em uma frase ou atitude que poderia ter sido diferente, significa abrir mão da necessidade contínua de controle. Isso para o ser humano é quase tão complicado quanto negar um sorvete num dia tórrido de verão. Beira o impossível. Queremos parecer sensatos, razoáveis, ponderados, mas fraquejar faz parte do aprendizado da alma, ser cabeça dura não.
Quando estar certo começa a ser mais importante do que manter uma relação tranquila ao lado de quem a gente escolheu, o amor, infelizmente, inicia seu caminho rumo ao fracasso. A tendência nessa circunstância é sempre piorar, principalmente se o outro está fazendo a parte dele como deve ser. A gente acomoda mesmo e o perigo mora justamente nessa falsa sensação de “poder” sobre o relacionamento. Amor é equilíbrio, respeito e reciprocidade. Ninguém manda em ninguém, muito menos é dono da verdade absoluta. Balançou para o lado contrário, assuma. Feio é persistir no erro.
Teimosia só serve para testar a capacidade de resistência das pessoas a nossa volta. Na vida real ela azeda, estraga e desanda até o mais doce dos pudins. Triste é o cavalo que anda de antolhos e não consegue ver nada além daquilo que seu dono permite. Olhar para trás é um luxo, refazer um caminho tortuoso é outro maior ainda. Pena que só nos damos conta da nossa sorte quando nada mais resta para lutar. O romance já desgastou, a admiração já criou asas, e muitas vezes até o amor em si já pediu dispensa para abrigos mais aprazíveis.
Temos o deleite de poder enxergar a vida exatamente como ela deve ser: com livre arbítrio. Que a gente saiba então merecer a dádiva que é poder se reformular, se metamorfosear em seres humanos melhores e fazer diferente. Antes que a vida nos ensine do jeito mais duro que nariz empinado, complexo de superioridade e inflexibilidade não traz ninguém de volta. Arrependimento tardio, quando nada mais faz sentido, também não.
