Querido quase amor,
Há quanto tempo não nos vemos? Quanto tempo faz desde a última mensagem que eu não te respondi? Confesso que não me lembro – é mais fácil lembrar do que doeu.
Lamento por não ter te presenteado com o grande amor que você esperava. Lamento ter ido embora, com a indiferença estampada no meu sorriso, com o sussurro silencioso de quem não precisa se explicar.
Acredite, eu também já estive do outro lado. Eu também já enxerguei nos olhos de alguém, num vacilo, que eu não era o que ele esperava. Doeu na alma, no corpo, no ego.
Me senti um pouco menos mulher, um pouco menos amável, um pouco menos digna da beleza que só o amor guarda, até compreender: A vida nem sempre é sobre os nossos méritos. As pessoas têm os seus momentos, os seus desejos, as suas estranhezas – elas existem, tão autenticamente quanto possível, a despeito de nós.
Não é você. Também não sou eu. Somos nós.
É clichê, eu sei, mas há algo mais clichê do que um encontro fracassado? E é esta a maneira mais didática de me explicar por ter te colocado no lugar em que eu mais detestei estar em toda a minha vida: o lugar de rejeição.
Espero, sinceramente, que o meu desconforto não tenha te feito acreditar que há algum problema com o seu sorriso – ele é lindo, juro! Espero que você não tenha se perguntado onde diabos errou quando me viu sumir, ligeira, naquela manhã ensolarada.
É que a vida nos aprisiona na ideia de que precisamos fazer por merecer. Que sempre que não conseguimos conquistar algo – ou alguém – é porque não nos esforçamos o suficiente, não somos bons o suficiente, não merecemos o suficiente. Por isso te escrevo, com toda a empatia do mundo: você é bom o suficiente. Mas para bons encontros, é preciso mais do que isso.
Não é tão simples. Talvez me falte talento para explicar. É que os bons encontros precisam de energia, naturalidade, do feeling perfeito que nos faça sentir vontade de ir ficando, até que, talvez, quem sabe, moremos no outro.
É inútil projetar no outro o que esperamos de nós mesmos. É inútil escrever dedicadamente o script de nossas vidas quando – nós sabemos – ela só caminha em direção aos próprios caprichos. E a minha vida, a minha energia e a minha vontade não caminharam até você, apesar das afinidades, das gargalhadas, das coincidências. Uma grande paixão não acontece exatamente como esperamos – por mais que a gente queira, tente, mereça. E, você sabe, não foi dessa vez. Mas há outras centenas de chances pra você.
Fica bem. Até, quem sabe, um dia.
