Mulher ‘mal-comida’ é sinônimo de mulher infeliz. É aquela que está sempre mal-humorada, que problematiza tudo e que não sabe conduzir a própria vida com a leveza que ela mesma nos pede.
Um homem de mau-humor está apenas de mau-humor. Talvez não tenha dormido bem ou seja grosseiro por natureza – ninguém jamais associa a expressão carrancuda à falta de sexo.
Mas uma mulher de mau-humor precisa transar (com um homem).
Então, há quem divida as mulheres – só as mulheres – entre mal-comidas e bem-comidas. O primeiro grupo é chato e indesejável; o segundo, tolera-se.
Determinam que o sexo é indispensável para o bom-humor – e a falta dele é a única razão lógica para uma expressão matinal de poucos amigos. “Falta de rola” justifica absolutamente tudo: mesmo que você esteja com problemas no trabalho, ou com a saúde fragilizada, ou com as contas atrasadas… nada disso supera a abstinência fálica.
Mais ainda: determinam que o prazer sexual só pode ser conseguido com um homem. Um homem é, portanto, o grande responsável pelo bom-humor feminino no mundo.
Eles, com seus falos mágicos, com suas línguas ferozes, com seus centímetros inesgotáveis de prazer, são a nossa salvação. Só eles podem nos salvar de parecermos infelizes. Só eles podem nos presentear com uma invejável expressão de mulher ‘bem-comida’.
Essa ideia é equivocada por uma razão de motivos – alguns óbvios, outros, nem tanto.
Primeiro, ela parte do pressuposto que o sexo salva absolutamente tudo, quando, na verdade, ele é apenas um pedaço de toda a nossa existência. Infelizmente, há questões que não podem ser superadas com uma gozada – aceitemos isso.
Como se não bastasse, trata-se de uma teoria falocêntrica até a última gota: preconiza o pau salvador, necessário, indispensável, insuperável. Ignora o fato de que nós, mulheres, podemos conseguir o prazer sexual – aquele teoricamente responsável por todos os sorrisos femininos do mundo – sem um pênis.
Sozinhas gozamos muito, e gozamos bem.
Uma mulher não é mal comida se está de mau-humor – ela só está tendo um dia ruim, exatamente como um homem de mau-humor.
Seria maravilhoso se todos os nossos problemas girassem em torno de paus – ou da falta deles – como creem cegamente os defensores do “é falta de rola!” – ser feliz seria tão fácil quanto comprar uma barra de chocolate que nos salve da TPM. Mas não: nós temos questões complexas que vão além de uma noite de sexo casual.
A julgar pela altíssima oferta, quem dera fosse falta de rola.