Mudança para mim é uma palavra muito forte. Me remete a algo que naturalmente não era, mas que passou a ser. Uma pessoa, um sentimento, uma situação “transformada” que carrega um leve aroma de instabilidade. Mudar é um estado inconstante. Vai totalmente contra aquilo que a gente é por dentro. Uma luta entre a nossa personalidade, nosso caráter, nossa criação e a expectativa, muitas vezes do outro, daquilo que deveríamos ser. Por isso eu digo, ninguém muda ninguém. Com a extrema resiliência do ser humano, acho que o mais adequado seria dizer que as pessoas se adaptam.
Ninguém deixa de ser teimoso, cabeça dura, desorganizado ou ciumento da noite para o dia. As pessoas são o que elas são. Isso está relacionado à individualidade, valores familiares, signo, lua com ascendente em Escorpião e sol em Áries. Nasce com a gente. Não estou dizendo que as pessoas são as mesmas para o resto da vida, que não podem sofrer uma metamorfose, pelo contrário. O processo de adaptação decorrente das diferentes experiências que a gente passa na vida abalam tanto as nossas certezas que dificilmente somos os mesmos de há 10 anos atrás. Na forma como a gente encara a vida, os amores, os momentos. Não na personalidade. Não naquilo que faz da gente quem somos.
Se o namoro não está legal, ambos os lados ajustam um pouco daqui e um pouco dali, para acertar as arestas que estão fora do lugar. Se ele sabe que deixar a louça por muito tempo na pia te irrita, pelo bem estar da relação ele pode sim aprender a se organizar melhor. Mas, se você viajar e deixá-lo sozinho, a realidade é que o fluxo volta ao normal (até a sua volta). O cara que foi babaca com você não deixou de ser babaca com a outra, ele simplesmente se apaixonou, sentimento que provavelmente não nutria por você. Adaptação a outras e novas circunstâncias. Se o timing for outro não quer dizer os envolvidos se comportarão da mesma maneira. Pode ser que mantenham o padrão. Pode ser que voltem às origens.
O meu ponto é: desista de tentar mudar a essência de alguém. Aceita, abraça e ama, como já disse outras vezes. Determinadas posturas podem ser amenizadas, trabalhadas e até reduzidas em um certo contexto. Mas mudança mesmo, irresoluta, sólida, definitiva, eu, pessoalmente, não acredito. As bagagens nos impedem de quebrar a cara em uma situação semelhante lá na frente, mas se a natureza é romântica, lá no fundo a batalha é grande para não se permitir se entregar completamente. E com toda certeza, ao esbarrar em uma metade permissiva, que te permite desfrutar do amor desta forma, o fardo pesado de todas as decepções fica magicamente para trás e se vive. Do jeitinho que o nosso coração é.
Não gosto de generalizar, mas na minha concepção a melhor saída é sempre estar em paz com as escolhas que se faz. Vai investir na relação, a pessoa é tudo aquilo que você espera e muito mais, então aceita o que não preenche as suas expectativas. A dura verdade é que o amor mesmo, no grosso do sentimento, é mensurado na tolerância ao “apesar de”. Apesar dos descompassos, dos defeitos, dos desvios, a gente recebe esse amor e abre a porta da nossa travessia. Bater eternamente na tecla da mudança esperando que a pessoa milagrosamente se torne algo que instintivamente não é, além de inútil é uma enorme perda de tempo.
Quer uma transformação real? Mude a sua forma de olhar para as pessoas. O resultado é mais do que gratificante, é duradouro. Uma parceria que se mantém baseada no respeito ao outro em sua totalidade tem de tudo para ser eterna. A permanência se fundamenta na confiança e não existe nada mais verdadeiro do que mostrar ao mundo a sua capacidade de adaptação em prol de um sentimento tão bonito como é o amor. Então ama. Aquilo que é e não o que você esperava que fosse.