Homem é tudo igual, só muda o endereço. E quem além de mim pode imaginar o quanto eu detestaria se esse ditado raso fosse verdadeiro? Imagine homens com os mesmos defeitos. Aprenderíamos a lidar com todos eles no nosso primeiro namoro adolescente. Seria o fim dos cabelos brancos precoces, mas também da delícia de descobrir o outro.
Imagine, aliás, se esse consenso de que “cabeça de homem é assim mesmo” fosse real. Saberíamos tudo o que eles pensam. Todos os nossos relacionamentos cairiam nas garras da mesmice. Pense bem, seria terrível.
Imagine se os homens – todos eles – realmente fizessem jus a todos os rótulos que lhe são colocados: “Todos os homens mentem”; “Todos os homens traem”; “Homens não entendem nada de moda”; “Homens não vão reparar no seu cabelo”; Porque, no fim das contas, os homens são todos iguais.
E se fossem, todos eles, um exército de mentirosos e insensíveis, que não sabem a diferença entre fúcsia e lilás (bem, eu também não sabia), que ficam mais amorosos quando nós os desprezamos, que vêem futebol aos domingos e preferem os filmes de guerra. Imagine só que tédio eles seriam.
Toda classificação pessoal a partir do gênero é perigosa porque limita as infinitas possibilidades da personalidade humana. Somos ímpares, independente do que tenhamos no meio das pernas.
Os estereótipos são tentadores, confesso: eles criam táticas infalíveis: Se os homens são todos iguais, basta que eu conheça um e saberei lidar com todos. Mas, bem, receio que não seja tão fácil assim. Pessoas não vêm com manuais de instrução.
Então, felizmente, os homens não são todos iguais. Nem mesmo nos defeitos. Pode haver, portanto, um homem mais sensível do que eu – uma mulher que chora assistindo ao documentário de sua cantora predileta. Pode haver homens que traem, e os que não traem, que querem se casar e os que querem viver na promiscuidade eterna, os que querem morrer de amores e os que só ensaiam sua próxima cafajestice, e, entre todos esses extremos, outros milhões de meio-termos.
E são esses meio-termos que nos intrigam, porque nós não podemos enquadrá-los em nossas certezas. Esses meio-termos que são as pessoas são tão singulares que não obedecem a nenhuma regra. Pois é, conhecer o outro dá trabalho. Não é tão simples quanto decorar “delta é igual a b ao quadrado menos quatro a.c.”
Pessoas não são fórmulas matemáticas. Todos nós somos isso: complexos e infinitos mosaicos de particularidades.