2014 foi um ano especialmente interessante para mim. Tinha acabado de entrar para aquela fase pós-faculdade em que a vida da classe média começa – sim, classe média, é importante reconhecer a bolha em que vivo e os privilégios que tenho aqui. Contrato de estágio acabou, fui contratado, passava por cargos que nada tinham a ver comigo, tinha um namoro longo, morava na casa dos meus pais e passava mais de quatro horas no trânsito diariamente entre ônibus e trens.
Quase perto do meu aniversário, no fim do ano, chutei o balde e decidi: preciso sair daqui.
Quando a ficha caiu, pensei que era só mais algum tipo de inquietação que bate na gente no meio do dia quando estamos entediados ou cheios de trabalho para fazer. Pensei que era manha, depois achei que estava sendo mesquinho, por último declarei o capricho que era pensar numa coisa dessas. Quem quer terminar um namoro, pedir demissão e ir embora pra uma cidade que só tinha visitado umas três vezes? Eu. Decidi fazer isso sob o pretexto de: preciso de novas chances de trabalho e preciso melhorar meu currículo. E em pouco mais de três meses, as coisas aconteceram e me mudei.
A verdade por trás da decisão é bem outra: não me mudei por trabalho, me mudei para tentar ser feliz. O que a gente chama de ser feliz nos dias de hoje pode caber em muitas perspectivas diferentes. Poderia ser encontrar um emprego melhor e que me desse melhores condições de vida, poderia ser encontrar um amor avassalador que desse tantas voltas na cabeça quanto uma montanha-russa, poderia ser aprender a me virar na vida sem o dinheiro e a casa dos meus pais. Poderia ser tudo isso e mais um pouco, não sei direito, cada um tem uma visão diferente das suas motivações e objetivos.
Na minha cabeça, alguns anos depois, o que fica é quão necessária se fez essa decisão. Mudar de cidade, de estado ou de país é uma atitude solitária, devo dizer. Você abre mão da sua vida como ela sempre foi, deixa as pessoas que ama a alguns milhares de metros de distância, esquece tudo o que sabia: como andar de ônibus por ali, os melhores bares e cinemas do lugar, seu lugar preferido muda, suas pessoas preferidas mudam, a forma como se veste muda, a sua visão de vida muda, tudo muda de uma hora pra outra, e isso requer muita coragem da gente. Ser feliz ou, pelo menos, tentar ser feliz requer coragem. Requer que a gente enfrente um monte de coisas fora da nossa zona de conforto. Requer que a gente siga em frente sem ter certeza de nada, porque ainda estamos tentando nos acostumar ao que é novo, com aquela dorzinha de saudades por dentro convivendo com a ânsia de descobrir logo as novidades.
O ato de se mudar, por si só, já nos força a encontrar alguma outra coisa que não seja o de sempre. Força um choque, uma nova maneira de encarar a vida. Renova bastante coisa que era costume e nos travava. E por mais que nós continuemos contando para os outros que nos mudamos para casar ou trabalhar ou ter uma qualidade de vida melhor ou praticar esportes ou qualquer que seja o motivo, na maioria das vezes, nós sabemos que há algo maior por trás disso: a gente muda (e se muda) na tentativa de alterar o curso das coisas e tentar ser só mais um pouco feliz.