• Nosso amor se aposentou no auge
  • Nosso amor se aposentou no auge


    Vai dar saudade, eu sei. Saudade que carregará por aí, para todo canto, e que fará com que se sinta presa a um capítulo que já terminou.

    Saudade que vai virar desculpa para se sentar num café e, entre xícaras vazias de cappuccino e conversas distantes, tentar descobrir o que deu errado, qualquer miúdo motivo para os tantos planos e “Vamos lá um dia?” que deixamos pela metade.

    Mas não achará nada de concreto, não adianta. Não perca seu tempo procurando pecados e crimes que não cometemos. Leia um bom Rubem Fonseca, procure receitas de bolo de caneca ou faça algo que a levará, de fato, a algum lugar. Pois mergulhando naquilo que fomos – mesmo que fundo! – você não achará passos em falso. No máximo, hipóteses sem nexo, invenções nas quais fará questão de acreditar para aliviar a ardência da dúvida. No máximo.

    E sabe por que não achará nada? Porque não deu errado. Não demos errado. Quer que eu repita? Não deu errado! Não demos errado! Daria se insistíssemos um pouco mais, se tivéssemos tentado sobreviver àqueles incômodos silêncios e finais de semana nos quais agíamos como se fôssemos estranhos dividindo cômodos. Mas fomos corajosos, não fomos? Tomamos a decisão certa: dissemos “Se cuida, tá?” e nos separamos em tempo de manter vivo só o que fez sentido, aquilo que, para sempre e a contragosto, voltará à tona em forma de nostalgia, um indecifrável misto de tristeza e alegria. Choro que terminará em riso. Gargalha perfeita para lubrificar os olhos.

    Fomos corajosos, não fomos? Repito porque consigo nos imaginar afundando juntos, sem coragem para aceitar uma verdade irrefutável: o poder de corrosão do tempo, muitas vezes, supera até mesmo o nosso mais ardente desejo. Dói, né? Eu sei. Foi melhor assim, porém. Pois quando finalmente conseguir parar de pensar nas coisas que podia ter feito para dar alguma sobrevida à nossa relação restará somente o que foi memorável. Aí sim entenderá este texto. Aí sim! Restará, apenas, saudade das madrugadas em que um relâmpago de iluminar o quarto fazia com que aproximássemos nossos corpos, bunda com bunda, comprimidas por medo abrupto da tempestade e da solidão; saudade dos tantos domingos que passamos sob as cobertas, escondidos da vida real e do corre-corre que enfrentávamos, bravamente, contando os dias para as próximas férias; saudade dos beijos suaves que você dava em minhas pálpebras quando me acordava bem cedinho em dia de viagem; saudade de um período lindo que conseguimos manter intocado porque não permitimos que as rachaduras da nossa relação crescessem a ponto de romper o que foi bom.

    Nosso amor se aposentou no auge, antes de virar ruína, quando as violetas ainda estavam vivas. E é delas que me lembrarei quando pensar em você e me perguntar: “Como será que ela tá?”.

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