• Desistir de relações tóxicas não é egoísmo
  • Desistir de relações tóxicas não é egoísmo


    Eis uma descoberta que salvou a minha vida: Nenhuma relação precisa ser pra sempre. Nem mesmo com a pessoa que você acreditou ser sua alma gêmea. Nem com quem assistia  com você as suas séries repetidas e ria ou chorava de novo como se fosse a primeira vez. Nem com quem, de tão íntimo, podia adivinhar até os seus suspiros. Nem com a sua melhor amiga do colegial. Nem com alguém que, antes de amigo, foi seu ídolo. Nem com os seus amores mais intensos.
    É claro que há beleza nas eternidades; mas antes de ser belo, o eterno é angustiante.
    E olhe que aceitar a efemeridade das relações e dos sentimentos não é falta de intensidade. Para nos provar, Clarice – a intensidade encarnada – tinha horror ao eterno.
    O eterno exige um esforço sobre-humano porque pressupõe que as relações,  mesmo as mais verdadeiras – sobretudo as mais verdadeiras – precisam se curvar diante do movimento de nosso eu mais íntimo.
    É que a gente muda. E toda relação que não pode mudar junto com a gente – justamente por estar aprisionada à ideia do eterno, daquilo que sempre foi e que precisa continuar sendo – é uma relação tóxica porque, em última análise, nos priva de nós mesmos.
    Abandonar uma relação tóxica não é tarefa das mais fáceis, porque a gente pensa que o verdadeiro tem de ser eterno – tolinhos! há grandes sentimentos que duram instantes – porque a gente insiste nessa ideia torturante de que somos responsáveis por tudo aquilo o que cativamos.
    E, não, eu não sou responsável pelo que esperam de mim. Eu não sou responsável pelo peso da eternidade. E esta constatação foi, de longe, a mais libertadora da minha então curta existência.
    Uma relação tóxica aprisiona, limita, e, antes, durante e depois disso tudo, maltrata. É tóxico que alguém não aceite o que escolhemos ser, é tóxico que nossas relações sejam entraves para os nossos caminhos, é tóxico que precisemos nos defender de nossos amores. O amor que liberta não precisa de defesa, não exige explicações.
    Se não puder ser livre, melhor que não seja nada. De que vale o amor se eu não posso ser exatamente quem eu sou? É caro demais um amor que custe um pedaço da gente.
    E diria Nina Simone, coberta de razão: é preciso aprender a levantar da mesa quando o amor já não está sendo servido. Se a relação tem gosto de medo, de dúvida e de angústia, lamento, já não é amor – o que não significa (de jeito nenhum) que algum dia não o tenha sido.
    Desistir de relações tóxicas não significa, portanto, desistir do amor. Significa, aliás, justamente o contrário: acreditar que o amor verdadeiro também tem prazo de validade – e que, a despeito disso, nada, nem o tempo, nem o físico, nem o movimento de nossas almas é capaz de invalidá-lo, porque o que uma vez existiu não poderá ser negado. Você sabe, as memórias não mentem.
    Não é egoísmo abandonar relações que já não nos deixam sermos quem somos. Isso tem outros nomes: inteligência emocional, amor próprio e maturidade.

    ass-nathalie


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