• Não tenho tempo para amores vazios
  • Não tenho tempo para amores vazios


    Sinto um calafrio a cada vez que penso em relacionamentos por conveniência.

    Não estamos falando de rotina – a rotina que, aliás, é uma delícia, porque a intimidade tem suas recompensas.  O que, afinal, substitui o conforto de ter alguém com quem compartilhar, sem constrangimentos, que você teve dor de barriga numa sala de espera ou se absteve numa reunião de família?

    Estamos falando de relacionamentos rasos, da intimidade fajuta, aquela que não se aplica às questões profundas da vida: serve apenas para que se discuta contas e planos práticos futuros.

    É como os fãs da zona de conforto e das pantufas costumam amar: ter alguém que seja limpinho e uma boa companhia, ainda que este alguém não ofereça qualquer desafio – pior: justamente porque não oferece qualquer desafio.

    Construímos relações de trivialidades quando escolhemos um “outro” que nos seja conveniente, ainda que não nos ofereça qualquer conexão mental ou espiritual: ele não nos desafia e não nos desestabiliza, mas também não é capaz de nos arrancar do lugar comum.

    Penso eu – Alice, ressalte-se – que a mágica do amor é justamente esta: que se possa falar sobre a vida, a morte, o Universo, a política, o misticismo, as teorias da conspiração com a mesma pessoa com quem se divide as contas. Que se possa ir ao banheiro de porta aberta enquanto se faz ao outro aquelas confissões inconfessáveis.

    Que, com a mesma pessoa que se pode falar qualquer asneira que não se fala em público, dê pra compartilhar sensações e as linhas em branco de nossas almas. 

    Não tenho tempo para amar sem descobrir nada de inacreditável na alma do outro, sem que ele te mostre uma música, um filme, um livro ou um ponto de vista que eu não conhecia, sem que ele jamais me faça repensar a minha existência e a existência de todas as coisas, sem que desafie a minha alma ou o meu intelecto…

    Não vale quando o outro entra no seu mundo e não mexe em nada. Tudo intacto na sua alma. Tudo em ordem na sua cabeça. Nenhuma confusão, nenhuma mudança, nenhum crescimento. São as relações triviais do conforto.

    Eu não sei vocês, mas eu morro de preguiça. Não quero um relacionamento vazio. Estou tentada a pensar que, na verdade, eu sequer quero um relacionamento: eu quero uma experiência. Uma experiência que valha o meu tempo em vez de matá-lo.

    Quero enxergar o mundo de outra pessoa. Quero descobrir outra perspectiva, outras crenças, outras possibilidades. Quero transcendência espiritual e papos-cabeça madrugada adentro. Quero que, mesmo com a intimidade que nos permite falar sobre as contas do mês, eu ainda consiga enxergar na alma de quem amo qualquer coisa que me inquiete.

    Amores e livros têm um princípio básico comum: se não inquietarem, não valem a pena.

    Grandes amores exigem grandes experiências – de aprendizado, mudança íntima e crescimento espiritual. E se não for assim, não vale a pena.

    ass_nathmacedo


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