“Relaxa, eu tô aqui e sei que sou ótimo”, “Nossa, mas você é muito difícil”, “Se você não mudar esse jeito, ninguém vai gostar de você”, “Você é uma pessoa horrível, sabia?”, “Tem que dar graças a Deus que eu ainda tô aqui, qualquer outra pessoa já teria desistido”, “Eu tenho nojo de você” e por aí vai. Essas frases que parecem ter sido tiradas de uma Bíblia dos Absurdos são só algumas das coisas que uma amiga ouviu recentemente do namorado. E o que todas elas têm em comum? Elas fazem com que a minha amiga sinta que é muito difícil ser amada.
Não é de hoje que isso acontece. Ela, você que tá me lendo e um monte de gente – amigas suas, tua mãe, aquela tua tia mais próxima, aquela prima, a colega de trabalho -, todos nós já tivemos uma espécie de relacionamento assim, extremamente abusivo. E sabe qual é a pior parte disso? É que a gente acredita nessas muitas frases que o ser humano diz pra gente.
Tem gente que tá com você, que diz que te ama, que quer compartilhar a vida contigo, mas te trata de uma maneira tão desumana que não chega nem perto da ideia de amor que a gente tem. Tem gente que faz com que você se sinta um monstro por coisas que você não disse, não fez, não presenciou e te coloca na posição de vilão de relacionamento enquanto sai como vítima. Tem gente que vai te dizer coisas horríveis, afinal de contas, quem é que ama e diz que tem nojo e sente desprezo pela pessoa com quem dorme? Daí acorda no dia seguinte e finge que nada aconteceu. Quem é que vira pro outro e diz que ele é um bosta, uma merda, que tem vergonha dele e continua com declarações públicas de amor, traz flores e pede desculpas jurando a eternidade logo depois de ter cuspido na tua cara?
Pois é, acontece com mais frequência do que se imagina. A gente não percebe que está vivendo uma coisa louca, emocionalmente perigosa, cheia de prejuízos à sanidade mental e à integridade física até que se distancia dessa coisa. A gente não percebe que não fez nada de errado até que consegue enxergar que o outro só nos põe para baixo, só se vitimiza, só nos culpa por coisas que nem temos a ver.
Quem ama não usa a gente de saco de pancada. Quem ama não faz com tenhamos a impressão de que é difícil ser amado. Que é um fardo pro outro. Que ele está fazendo um grande favor em ficar ali do nosso lado. Se realmente fosse um fardo, ele já teria ido embora e procurado alguma coisa saudável, mas geralmente não é. É só alguém usando e abusando psicologicamente da gente com aquela ideia de que nunca vamos encontrar alguém que nos ame como eles amam.
Deixe-me contar uma coisa: vamos sim. E vamos encontrar pessoas que não só nos amem, mas também respeitem quem somos, nossa individualidade e, principalmente, nosso lado emocional. Gente que não vai gritar, que não vai bater, que não vai fazer com que nos sintamos horríveis, esgotados, cheios de mágoas e angústias. Afinal de contas, relacionamento nenhum foi feito para ser um fardo. Caso seja, talvez seja a hora de rever o nosso conceito do que é amor e entender de uma vez por todas que amar não significa sofrer, que se dedicar ao outro não significa aceitar todo tipo de violência, que gostar de alguém não significa abrir mão de nós mesmos.