• Desacelerar é preciso
  • Desacelerar é preciso


    Em meio a uma avalanche de conselhos como “keep walking” e “o show não pode parar”, que nos incentivam a permanecer em ininterrupto movimento, percebo que temos nos esquecido da importância de dar um pause geral vez ou outra. Se é que um dia soubemos dela, né?

    Caminhar em direção àquilo que sonhamos é essencial para que consigamos chegar lá, eu nunca afirmaria o contrário. Porém, para não perdermos todos os cabelos, “embirutarmos” ou coisa pior, afirmo: é imprescindível que façamos pequenas paradas pelo caminho; breaks nos quais a prioridade máxima deve ser não pensar muito nem fazer nada demasiadamente desgastante. Tipo o quê? Procurar desenhos em nuvens, por exemplo. Ou observar o amor que transborda dos casais de velhinhos que ainda não se renderam à frieza do amor puramente virtual, e continuam a se amar ao vivo, pele com pele e olho no olho, em praças e padarias. 

    Eu sei que o conselho que dei no parágrafo acima parece seguir na contramão de tudo aquilo que tem sido martelado aos montes por aí; principalmente se você, como eu, mora em uma cidade gigantesca na qual os lemas predominantes parecem ser “tempo é dinheiro” e “dormir é para os fracos”. No entanto, se preza pelo bem mais valioso de todos (a saúde), recomendo que não seja mais um dos muitos que só param quando a bateria e o Red Bull acabam – e olhe lá. Recomendo que desista de tentar acompanhar o ritmo frenético e corrosivo do mundo moderno e, vez ou outra, em vez de entrar afobado num trem-bala abarrotado de enforcados por gravatas e moças de panturrilha doída por causa do salto, monte numa bike – ou num chinelo bem confortável – e parta sem rumo e relógio. Sem pressa para nada. 

    Os e-mails continuarão a chegar bem mais rápido do que é capaz de respondê-los, sendo assim, deixe a caixa de entrada transbordante de lado de vez em quando. Melhor ainda: troque essa sua “vontade” de não deixar nenhum e-mail sem resposta por um dia de dolce far niente, no qual sua maior responsabilidade será escolher entre casquinha e copinho, creme e chocolate e sofá e rede. Manja? 

    Se o mundo fosse uma grande pista de dança, diria que, na maioria do tempo e dos cantos, só toca techno e outros ritmos feitos para nos acelerar. Por isso, todo cuidado para não se deixar levar é pouco. Afinal, se nos deixarmos contaminar pelo embalo frenético da modernidade, só pararemos no dia da nossa morte, e, ironicamente, a causa dela talvez seja esse nosso excesso de movimento brusco e sem fim; essa nossa falta de pit stops feitos somente para recarregar as energias e nos reconectar aquilo que perdemos enquanto corremos atrás de mais e mais e mais e mais coisas que, se pensar bem, não valem metade do esforço que temos feito por elas.

    Sabe aquele cara da capa da Você S/A que com trinta anos é CEO de uma multinacional e se gaba por dormir só duas horas e “comer” sobre a mesa do escritório? Eu sei que sabe. E sei, também, que deseja ser como ele. Porém, se me permite uma sugestão: desista enquanto ainda há tempo à sua disposição. Pois depois, quando perceber que os milhões que juntou não trarão de volta o tanto que perdeu enquanto pisava fundo numa ilusão, não terá segunda chance. E será obrigado a parar por fata de fôlego e outras faltas incapacitantes que o uso exagerado e irresponsável dessa máquina chamada corpo humano causa. Compreende?

    Se quer ir mais longe, aprenda a parar. A principio, pode parecer contraditório. No entanto, depois de algumas tardes na rede apenas lendo ao som do mar, perceberá a importância de um descompromisso total – também conhecido como “foda-se” – entre uma reunião e outra. Entenderá o quanto é importante tomar uma xícara de chá de camomila entre um balde de café e outro.

    Pelo seu bem, não continue a não parar. E se dar uma freada brusca for algo muito difícil para você, comece reduzindo o ritmo, tirando o pé do acelerador. E, aos poucos, perceberá algo incrível: o mundo não vai parar de girar velozmente se você, vez ou outra, enquanto o povo frita, der uma de Martinho e bailar devagar, devagarinho… 

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