• O sonho dela agora é meu
  • O sonho dela agora é meu


    “Qual é o seu maior sonho?”, perguntei. “Conhecer a aurora boreal”, ela me respondeu. E me mostrou os dentes de um jeitinho que sempre faz florescer um jardim de girassóis em meu interior. Depois disso, comecei a sonhar com a possibilidade de proporcionar um encontro entre ela e a tal da aurora. E só vou sossegar no dia em que conseguir, falo sério.

    Realizar os sonhos da pessoa que eu amo é meu grande sonho, essa que é a mais pura verdade. E isso não acontece por escassez de sonhos só meus, não! Ocorre porque o prazer que me toma quando percebo que estou dando prazer a ela é atômico. Saca? Tão atômico que vivo a observá-la atentamente, todo santo dia, com o intuito de captar indícios dos maiores e, também, é claro, dos mais sutis desejos dela.

    É que ela nem sempre é objetiva a ponto de dizer “Amo isso!” ou “Quero aquilo!”, manja? Às vezes, diante de algo que deseja muito, ela apenas arregala os olhões e sorri de cantinho de boca, discretamente. E isso já me basta para que eu atualize um arquivo mental chamado “coisas e experiências que a fariam bem”, o qual eu costumo consultar em datas especiais e, obviamente, nas vezes em que ela fica jururu por causa das tantas rasteiras e pontapés que a vida dá.

    Para alguns, prestar atenção em detalhes desse tipo é besteira, atitude mais do que exagerada. Para mim, no entanto, é comportamento essencial para dar mais colorido a uma relação. Pois as demonstrações de amor ficam bem mais potentes quando, por meio delas, expressamos também que prestamos atenção nas minúcias e sutilezas constantemente desferidas pelo nosso parceiro. Compreende?

    O valor de um presente caro e genérico, por exemplo, não chega nem aos pés de uma violeta que só foi comprada porque ela, um dia, postou um poema que fala da beleza das violetas. Um vestido feito por um estilista da moda – sem a cara dela, porém – dificilmente impactará tanto quanto um vestido baratinho composto por estampas de algo que ela ama perdidamente – como gatinhos e cactos, por exemplo. Entende o meu ponto? Serei mais claro ainda: demonstrar que você faz questão de reparar nos detalhes que a fazem uma pessoa única é bem mais importante do que o presente ou experiência que dará a ela.

    Se você vive a dizer que ama muito alguém, porém, não tem a mínima vontade de realizar os sonhos e desejos dessa pessoa, não se trata de amor, não se iluda. Longe disso, aliás! Porque o amor nos deixa com vontade de ser aquilo que falta àquele que acelera nosso coração e agrega em nossos dias. O amor faz com que façamos de tudo e mais um pouco só para arrancar um sorriso do ser amado. Porque, como já disse acima, não há nada tão satisfatório quanto perceber que temos sido a matéria-prima da felicidade de quem é fonte da nossa. Simples assim, como penso que o amor deve ser.

    Quando à aurora boreal, bom, aí o lance é bem mais complexo, exige muito mais do que vontade e blábláblá. Um dia, contudo, eu sei conseguirei realizar mais esse sonho dela – e agora meu. E até lá, continuarei fazendo aquilo que está ao meu alcance e que, de alguma forma, expressa a atenção que presto no que ela diz e cala. Que tipo de coisa? Continuarei comprando cactos na feira de sábado, levando-a para comer bolo Red Velvet em terças monótonas e, quando ela menos esperar, vou esperá-la para jantar com frango à milanesa e molho tártaro. Coisas simples, saca? Simples, porém, memoráveis. E cá entre nós, caro leitor, o que vale mais do que uma memória boa?

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