Tenho uma espécie de sensor para homens problemáticos – os misóginos, os que vão te interromper quando você quiser expor uma ideia, os que olharão esquisito pra a sua blusa transparente e que mamilos não precisam ser oprimidos.
Depois de meia hora de conversa (ou menos), a sirene geralmente soa: “Perigo, pessoa potencialmente problemática identificada.”
Talvez seja só a mania inútil de rotular – tudo é possível – mas o fato é que há pequenos símbolos muitíssimos significativos para se saber se um homem é ou não potencialmente problemático – quando um homem chama a ex de louca, por exemplo.
Mesmo as pequenas escolhas dizem muito sobre o que a gente é. Se você é grosseiro com o garçom, não é pecado que eu suponha que costuma ser grosseiro com as pessoas sobre as quais exerce algum tipo de poder. Se você chama a sua ex-companheira de louca, neurótica, possessiva (etc), igualzinho: eu tenho todo o direito (o dever, talvez, pelo meu próprio bem) de ficar com os dois pés atrás.
“Ninguém sabe o que a ex dele fez, né?” – alguém provavelmente dirá, pra se livrar da culpa de não enxergar o óbvio, mas: não.
Alguém capaz de falar horrores outro alguém que já lhe fez feliz, já transou com ele em todas as posições, já dormiu e acordou com ele dezenas ou centenas de vezes, é alguém, no mínimo, de caráter duvidoso.
Pior: alguém que não se incomoda em ser injusto com as próprias ponderações porque o importante é se eximir de qualquer culpa. A culpa é sempre do outro, sobretudo se o outro não estiver lá pra se defender. Não dá pra esperar muito de alguém com tão pouca autocrítica. Alguém que presumidamente nunca erra.
Gente que vale o nosso tempo tem respeito – no mínimo – pelas próprias memórias. Gente bem-resolvida não apaga o passado e nem passa a vida tentando estrangulá-lo.
Se ele tem muitas ex-namoradas loucas, neuróticas, histéricas e insuportáveis, você fatalmente será a próxima.