Numa tarde ensolarada alguém te pede educadamente para que tire os fones de ouvido e lança a pergunta de um milhão de dólares:
– Você está pronto para a vida adulta?
Não.
A famigerada vida adulta é um pouco mais agressiva que isso. Chega tão rápido que quase não dá tempo de entender nada, a não ser por alguns sinais, digamos, frequentes:
- Você escolhe Netflix na sexta-feira – Ficar em casa na sexta-feira, no quarto, vendo séries, zero socialização – há alguns anos isso soaria como um castigo, mas agora é, frequentemente, uma escolha. Você pensa que vai ter que pensar numa roupa, enfrentar filas nos banheiros e bares lotados, considera toda hostilidade que há da porta pra lá e escolhe o pijama.
- Você não idolatra (quase) ninguém – Você não tem mais tempo pra ser fã de ninguém. Vai no show quando dá, compra o livro quando o orçamento deixa, e às vezes ouve o disco novo de um artista que você adora e acha sinceramente uma bosta, mas se a sua banda predileta da adolescência vem pro Brasil, compra até passagens aéreas – traduzindo: você tem mais senso crítico e sabe que só algumas coisas (e experiências) valem realmente a pena.
- Você tem menos disposição para brigas – Você faz a egípcia nos almoços de família. O ímpeto de responder “queimei todos” quando a sua tia pergunta “e os namoradinhos?” vai passando com o tempo, acredite. Você deixa de chocar a família tradicional brasileira problematizando tudo e passa a chocar com o silêncio. Aí todo mundo fica chocado só porque você não chocou ninguém. “Mulher tem que se dar ao respeito!”, diz o tio do pavê. Ah, tá.
- Seus sonhos de consumo mudam – Você passa a desejar frigideiras antiaderente, eletrodomésticos estilosos, panos de prato felpudos, produtos de limpeza que deem menos trabalho, aquecedor de canecas USB, incensos que durem mais…
- Você se torna mais sensível às pequenas vitórias – A vida de um recém-adulto não é exatamente fácil, então, é inteligente que a gente se apegue às pequenas vitórias. Você fica contente quando consegue terminar todo o trabalho pendente ou descobre uma receita nova de pudim.
- Você vai desaprendendo a flertar – Você já conhece todos os jogos de acasalamento e se dá conta de repente de que eles te cansam. Você não tem energia pra jogos amorosos – e todo flerte que te exige isso é, involuntariamente, eliminado. Sua energia fica guardada para os contatos reais (mas, às vezes, até mesmo deles você tem preguiça).
- Você quer tudo ao mesmo tempo – Você não sabe se isso é normal – às vezes tem certeza de quenão é – mas tem uma fome permanente de tudo no mundo. Quer trabalho, mestrado, intercâmbio, viagens, certificados, cursos de idioma, artes, amigos, experiências. Não sabe o que quer, mas quer muito. Quer tudo e ao mesmo tempo não quer nada.
- Sua saúde passa a ser uma questão – sim, porque até os vinte e poucos, a sua saúde não é exatamente uma questão. Sua mãe marca suas consultas e, quando não marca, você não vai, porque você não se importa, até que começa a ter problemas com insônia e um pigarro que não sara nunca (e se dá conta de que se você não for ao médico, não vai sarar).
- Você seleciona suas companhias – Você entende que não vale a pena se desgastar com relações complicadas só pra não ficar sozinho. Você seleciona melhor seus amigos e prefere ter poucas relações intensas a numerosas relações superficiais.
- Você sabe fazer com que as pessoas pensem que sabe o que está fazendo – mas você eventualmente não faz a menor ideia, exatamente como eu escrevendo essa lista.