O relacionamento terminou há semanas, mas vocês continuam conversando. Ele diz que ainda te ama, que você é o homem da vida dela, mas que não está preparada para enfrentar as dores e os problemas da relação. Que não é para ser. Mas não deixa de te ligar de madrugada depois de uma bebedeira daquelas. Nem de te marcar naquele recadinho fofo no Facebook. Amigo, parabéns, você foi rebaixado à categoria de step.
A definição técnica do step diz que você acaba de se tornar uma pessoa com chances próximas a zero de entrar para a lista de pretendentes dela. Mas que, como ego bom é ego inflado, ela não vai te dispensar na cara dura para não passar por aquele momento chato de não ter ninguém à mão. Quanta gente já se adaptou a essa técnica mais velha do que papai-e-mamãe! São os sem coragem para assumir a solidão.
Desde pequenos, ouvimos dos mais velhos uma verdade bastante triste, e inacreditavelmente difícil de se aceitar: estamos todos sozinhos. A família não vai poder estar do seu lado em todas as decisões que você tomar. Os amigos, com o tempo você vai descobrir, são dois ou três durante a vida toda. O resto são colegas. Se você for uma pessoa super hiper mega boga popular, vai encontrar uns quatro, e desconfie.
Nossos parceiros na vida acabam sendo o depositório máximo das esperanças, o último suspiro daquele soprinho no seu ouvido dizendo que vovó estava errada, de que do seu lado alguém quis ficar, alguém que pode te ajudar por dentre os problemas mais emaranhados deste mundo, e nos empurrar sãos e salvos sempre para frente.
A solidão, mesmo que dure poucos meses entre um namoro e outro, tem a capacidade de nos lembrar, em um processo quase inconsciente, que o mundo não gira em torno de nós. Que, por um momento, pode ser que ninguém esteja se importando com onde e como você está. O step é, do ponto de vista de quem o pratica, o conforto para essa dura verdade.
Porque é difícil aceitar isso, não? Mesmo a menos egoísta das criaturas constrói uma fantasia muito particular em torno de si. Uma espécie de jornada do herói para enfrentar um cotidiano dos mais difíceis e aterrorizantes plots, antagonistas, e twists já escritos. A trama máxima, uma espécie de autor invisível que nos conduz por entre as páginas de um romance, e chega ao prólogo, ao final feliz, feliz, feliz. Manter um quase-relacionamento de reserva, alimentar as esperanças de quem nos gosta, faz parte de um medo imaturo e mal resolvido dessa solidão, de não ter seu final feliz reservado e garantido, com todos os direitos e tal. Todos querem o papel do personagem principal, e pouca gente se importa em fazer do coadjuvante o seu protagonista.