• Tartarugas desquitadas  e o Fim do Felizes Para Sempre
  • Tartarugas desquitadas


    e o Fim do Felizes Para Sempre


    Dias atrás, uma notícia de jornal me tirou o chão. E olha que não foi nada relacionado à taxa Selic, crise na Europa, gripe A ou os conflitos na Síria. O que me deixou desconcertada foi saber sobre a separação de um casal de tartarugas idosas em um zoológico da Austrália. O motivo: elas não se suportarem mais. Vivendo juntas desde pouco depois do nascimento e com 115 anos de idade, Bibi e Poldi tinham o relacionamento considerado como o “casamento” animal mais duradouro do mundo. Até que um dia acabou-se o amor. Bibi começou a atacar o marido diversas vezes até que eles tiveram de ser separados. A chefe do zoo ainda afirmou ter a impressão de que os dois “não conseguiam mais nem aguentar a visão um do outro”.

    Aí bateu a inquietação: se até as tartarugas fofinhas que formavam o casal animal mais antigo do mundo não se aguentavam mais, que chance nós, relés seres humanos imperfeitos e egoístas, temos? O amor eterno do tipo “até que a morte os separe” nasceu e morreu nos contos de fadas mesmo? Porque se a biologia tá aí explicitando em nossas fuças que não é possível amar alguém forever, como lidar com o fato de que o “felizes para sempre” nunca existiu? Como entrar num relacionamento sabendo que esse tem prazo para terminar?

    Eu fico pensando o que poderia ter acontecido para que o temido e irremediável fim tivesse chegado para o até então feliz casal de tartarugas. Será que Poldi arrumou uma amante? Ou talvez Bibi tenha engordado alguns quilinhos e Poldi não sentisse mais desejo pela esposa. Pode ser que Bibi estivesse cansada de encontrar sempre a toalha em cima da cama e o tampa da privada levantada e resolveu dar um basta na situação. Ou Poldi chegou na crise do centenário de idade e resolveu dar uma de Charlie Sheen: comprou um Lamborghini e saiu por aí vivendo a vida intensamente. Eles brigavam demais? Será que Poldi viciou-se na jogatina e Bibi não aguentou a barra? Não importa os motivos que levaram à separação, fato é que o relacionamento terminou de vez. Até especialistas foram chamados para tentar salvar o casamento. Tentou-se de tudo para reacender as chamas da paixão: comidas afrodisíacas foram oferecidas para trazer de volta a diversão, mas sabe como é “em briga marido e mulher ninguém mete a colher”.

    O desquite das tartarugas me deixou duvidando do sentindo de me envolver com alguém se isso mais cedo ou mais tarde vai terminar. Mas talvez a questão não seja se o amor tem ou não data pra expirar, mas sim o que ele te traz. Não confio na máxima de que “se acabou é porque não era amor”. O amor é abstrato demais pra se definido. É um sentimento altruísta, agudo, que extrapola as linhas desse parágrafo. É um verbo ativo cheio de variantes, cheio de camadas que escondem tantos sentimentos. É algo que eu ainda não sei definir, somente procurar, intensamente. Mas mesmo sem saber defini-lo acredito que existam vários tipos de amor, e que não é porque alguns deles são efêmeros que são menos importantes.

    A graça do amor, então, é que ele não precisa durar para sempre. Ele apenas tem que ser bom, te fazer bem, te acrescentar algo enquanto você está no relacionamento. A vida é feita justamente desses envolvimentos temporários, desses encontros e desencontros que formam a colcha de retalho que somos – sinto que sou formada por um pedacinho de cada pessoa que já cruzou o meu caminho e deixou seu rastro. A beleza está no poder se apaixonar e reapaixonar de novo, e de novo, e de novo (seja pela mesma pessoa ou não). Se o amor tem prazo de validade, se ele dura pra sempre ou não, isso não importa. O sábio Vinícius de Moraes já entendia que não há desmerecimento nenhum só porque um dia o amor pode terminar. O que importa é que ele “seja infinito enquanto dure”.

    Imagens por France Presse

     


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