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Todo mundo vai envelhecer. Nada mais natural do que ficar velho e, aos poucos, perder o otimismo – especialmente quando você está solteiro e se sente incapaz de encontrar um relacionamento para o resto da vida. Independente de não ter chegado nem aos 30, todo dia você vai dormir se culpando por ter terminado todos os namoros que pareciam perfeitos e acredita piamente que nunca sentirá o amor de outra pessoa novamente.
Eu mesmo já tentei me convencer de que ainda existe esperança pra mim. Foram três vezes desde que comecei a escrever o texto, e espero que surta algum efeito antes de eu chegar ao final destas linhas.
O problema da idade é que ela caminha junto da insegurança e do medo. Ninguém quer ficar sozinho. A solidão é real: está presente todos os dias quando nos deitamos para dormir. E ela costuma machucar bastante com o passar do tempo. Envelhecemos e perdemos uma das principais armas da sedução: a beleza. Ficamos menos enxutos, mais enrugados, carecas, ranzinzas e, às vezes, egoístas. Mas, acima de tudo, ficamos com medo e prestes a aceitar passar por situações desagradáveis apenas para garantir uma companhia para ir ao cinema assistir ao novo filme do Homem de Ferro. E aí que mora o problema: no medo. Você começa a enxergar com um pouco de dificuldade (literalmente, inclusive) a realidade daquela relação. Será que você ama de verdade ou só está investindo em algo razoável para não ficar abandonado nas noites de sábado? Será que você é amado ou é apenas um objeto de decoração que precisa viver de acordo com as leis e regras da outra parte? Começa o dilema entre o que é realmente amar alguém e o que é possuir.
Friedrich Nietzsche, um dos filósofos mais machistas, pessimistas, e depressivos do mundo, refletiu muito sobre essa questão. Tudo bem que com aquele bigode, seria de se admirar se algum dia ele pudesse ser capaz de levar a moça mais bonita da rua para tomar um chá na esquina, mas é curioso como suas palavras se encaixam perfeitamente na realidade de tantas pessoas dos dias de hoje. Ele questionava se o amor não era, na verdade, a expressão da nossa necessidade de privar o outro de viver. Para o bigodudo, os humanos são egoístas demais para conseguir viver algo altruísta sem se cansar ou querer impedir que o outro vá embora.
Algumas pessoas têm conhecimento de causa para apoiar as impressões de Nietzsche e nem imaginam. Basta pensar nas atitudes do último parceiro e nas imposições que estavam lá sem você perceber, na época em que tudo era sexo, sorrisos e cumplicidade. Com o passar do tempo de uma relação, parece que a velha insegurança retorna, e passamos a ter (ou ser vítimas de) comportamentos controladores e nocivos para qualquer relacionamento. Aceitamos abrir mão de amizades, aceitamos corrigir certos defeitos, nos esforçamos para mudar quem somos, e tudo isso em troca do “amor” de alguém? Será que nosso sofrimento e medo de ficar sozinho são tão grandes ao ponto de nos cegar para a verdade? Amar não significa dominar (quer dizer, existem os adeptos desta prática sexual, mas não é o tema aqui) e impedir que a pessoa tenha a sua própria vida. O amor real é aquele que sente ciúme, sim, mas que sabe respeitar limites e conhece bem o significado da palavra confiança, algo essencial para um relacionamento funcionar.
A impressão é que certas pessoas parecem começar um novo namoro com o desejo de corrigir os erros cometidos no passado. Elas não se preocupam com o pequeno detalhe de que estão lidando com uma pessoa diferente, e que cada relação tem suas particularidades. Como se o atual relacionamento fosse uma versão 2.0 do namoro anterior. Isso significa que cedo ou tarde, os problemas voltarão. Ainda se insistirá em querer controlar as ações do outro, escolher os amigos, os passeios e até mesmo o que o companheiro pode ou não fazer. Qualquer infração significará cara feia e greve de sexo, que podem mesmo levar ao fim do namoro em situações extremas. Os que assim pensam querem um brinquedo obediente, não uma pessoa. E tudo isso pode ficar ainda pior se você também não for lá cheio de autoconfiança. Nessas horas é inevitável começar a imaginar que ela só está com você porque o último namoro não deu certo (óbvio) e por não ter encontrado opção melhor. Ou seja, ela procurava filé mignon no mercado, mas teve que levar costelinha para casa. Você é apenas o prêmio de consolação, e não pode escapar de jeito nenhum.
Não importa o preço. A pessoa deixará de valorizar tudo que vocês eram no começo para tentar manter uma mentira conveniente. A magia do amor deixa de importar. Não se aceita correr riscos de perder, de confiar, e se prefere optar por tentar possuir alguém. A barreira do ciúme é ultrapassada, e a relação deixa de ser saudável. Qual a lógica de manter uma relação com alguém que mudou e exigiu tanto? Se vocês deixaram de ser quem eram quando se conheceram, onde é que se sustenta o amor? Aceitar se transformar em uma versão piorada de você mesmo apenas para agradar as necessidades opressoras de quem deveria nos fazer feliz é qualquer coisa, menos um namoro. Quando o respeito e a confiança saem de cena, o que resta é apenas a posse. Até onde eu sei, posse de outro ser humano é escravidão. E eu nunca fui muito fã do Bryan Ferry para me transformar na versão real de uma de suas canções.