• Hey, Whatsapp? – Sobre Desilusões  Amorosas E Mensagens Sem Resposta
  • Hey, Whatsapp? – Sobre Desilusões


    Amorosas E Mensagens Sem Resposta


    O Whatsapp não tem nada de inocente. Descobriu que a falta de atenção me vicia com facilidade e agora alimenta minha neurose com o last seen – ou última visualização, para os menos americanizados. Não quero desmerecer o aplicativo: acho fantástico poder falar com meus amigos e o fato de ser gratuito torna o aplicativo especialmente cativante. É aquela coisa: desde a roda até o Skype, qualquer encurtador de distância é sempre muito bem-vindo.

    Entretanto, percebi que o que me prende ao aplicativo, o que faz com que eu o acesse muito mais do que seria saudável, não são mensagens: são as pausas. O tempo que separa as conversas que eu tive das que eu gostaria de ter. A mensagem que é recebida e ecoa sem resposta. O recado que não chega e me faz pensar: onde é que ele anda? A falsa sensação de controle sobre a vida alheia, que permite adivinhar itinerários, e a angústia de estar sendo ignorada, às vezes sucessivamente.

    Mensagens ilimitadas com custo zero. O contexto é tão despretensioso que instiga a dizer coisas que normalmente não seriam escancaradas. A dar importância demais para o supérfluo e a fazer o essencial parecer banal. No universo de quatro polegadas, as relações funcionam diferente, com intenções mais soltas e fáceis de dissimular. Por mais pensado que seja, qualquer convite ganha um ar natural e toda coragem pode ser remediada com um simples ‘hahaha’.

    Antes as coisas eram mais simples. Você escrevia, a pessoa respondia ou não. Se não respondesse, sempre haveria o consolo de pensar que a mensagem não tinha chegado, ou que não tinha sido vista. Que o celular tivesse sido roubado, que a pessoa tivesse sido abduzida, qualquer coisa do gênero. Agora a verdade vem bem mais cruel e você pode surtar utilizando opções variadas, tais como bloquear, desbloquear e – por que não? – enviar as conversas por e-mail.

    Já testei todas essas e algumas outras: deletei os contatos da agenda e apaguei o aplicativo para nunca mais voltar. Aquele papo de viciado em processo de reabilitação, que promete um novo comportamento a partir de segunda-feira, mas que cai em tentação na sexta. Hoje eu não prometo nada. Já até desisti de desabilitar o last seen. Vi que aceito ser vigiada desde que eu também vigie e suporto toda a exposição desde que me considerem. Percebi as vantagens da superficialidade e até coloquei no meu perfil a minha foto mais bonita. Daquelas que a gente tira na estica, antes de ir ao casamento da prima.

    É. De fato, o Whatsapp não tem nada de inocente. Que bom, porque eu também não tenho.


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