Terminar um ciclo, fechar uma história deve ser sempre assim. Não conviver mais com aquela pessoa que por tanto tempo preencheu um enorme espaço em nossa vida é um verdadeiro martírio. Passamos a não saber mais sobre seus hábitos, sobre o seu dia, seus fardos e suas alegrias. Aquela pessoa que ontem era tão presente, torna-se agora um estranho, um “outro”.
Inicialmente a falta e o apego àquela pessoa sufocam, desesperam. Nos vemos sem chão, sem rotina e sem ânimo para seguir em frente, até que o mais triste acontece: perdemos completamente o interesse pela própria vida. Não no sentido trágico da coisa (não é suicídio!), mas acabamos ligando o botão automático da desolação do rompimento e passamos a viver os demais dias sem olhar ao redor e deixando que a vida passe sem ao menos percebermos.
Pode acontecer para ambos os lados, ou apenas para um, mas é real. Para uns, os sentimentos se exaltam em furor, outros se recolhem em dor. Cansa, castiga, esgota, mas a boa notícia é que sempre passa. Até que um belo dia, nossa chave vira do automático para o manual e acordamos com o sentimento de dever cumprido, de dor sentida, de ferida cicatrizada.
A partir daí, retomamos as rédeas da nossa vida. Passamos a reinventar nossa própria rotina, admiramos com certo charme a própria solidão e voltamos gostar e nos reencontrar com tudo aquilo que, antes de cairmos de cabeça naquele relacionamento, preenchia nosso tempo e nos fazia feliz. Finalmente, voltamos ao controle da situação e dos nossos sentimentos. Aquele período foi difícil pra caramba (claro que foi!), mas o que nos ensina e amadurece, fica para sempre.
Aquele CD que estava guardado há um tempo porque o outro não curtia passa a ser a mais deliciosa sintonia durante um trânsito caótico. Aquele reencontro com os amigos que não víamos a meses porque estávamos muito ocupados discutindo a relação, vira a mais divertida festa e passar horas lendo e relendo daquele livro preferido ao invés de acompanhar um jogo de futebol, traz uma felicidade imensa.
O autoconhecimento também é uma recompensa. Enfim, descobrimos que não somos tão chatos, ranhetas, impacientes e permissivos quanto achávamos. Passamos a entender que aquilo que os outros projetavam ao nosso respeito não é, e nem passa perto da pessoa que realmente somos e conhecemos. Nossa autoimagem pode ter sido distorcida por muito tempo pela lente do outro, mas nesse momento temos a chance de voltar a observar e melhor avaliar nossa vida e personalidade com o nosso microscópio pessoal.
É duríssimo ter de zerar o cronômetro. Quando as coisas iam bem ou mesmo quando já iam mal, finalizar sempre representará mudança. Todavia, quando a poeira baixar e o mar de confusão sentimental se acalmar, temos a grande chance de reencontrar aquela pessoa que estava escondida dentro de nós mesmos durante todo esse tempo. Se perder no meio do caminho e deixar de viver a nossa própria história é parte do que também justifica o sofrimento pelo fim.
As vezes não é só a falta do outro que dói, e sim a saudade de nós, daquele “eu mesmo” que deixamos para trás, quando estávamos acostumados não a compartilhar nossa vida dentro de uma relação, mas a viver integralmente a vida do outro.
“A grama do vizinho, é sempre mais verde”, e nesse sentido, supervalorizamos a vida do outro e, principalmente, suas ideias a nosso respeito. No entanto, ao final, quando tudo já perdeu o sentido, é possível compreender que somos os únicos protagonistas e autores da nossa própria narrativa e principais precursores dos nossos sentimentos. A partir daí não deixamos que ninguém mais distorça isso.