• A eterna busca pelo que não existe
  • A eterna busca pelo que não existe


    Relacionamentos sem brigas, chocolates que não engordam, intimidade sem rotina, barriga sarada sem umas boas e suadas abdominais. Você também é do time daqueles que só chegam na hora do jantar e não querem saber de picar os legumes ou lavar os pratos? Pois eu digo já: o amor não foi feito para vocês. No universo dos que se entregam a alguém a gente sente frio, fome, angústia e às vezes dor. O enredo é muito mais parecido com uma comédia meio dramática do que com um conto de fadas. Até existem príncipes e princesas, mas definitivamente eles não estão no alto de um castelo (ou de um pedestal).

    Existem determinadas coisas nessa vida que simplesmente não existem e a gente sabe disso. Acontece que não estamos preparados para lidar com a realidade de não ter as nossas expectativas correspondidas. A gente come o brigadeiro na esperança do nosso metabolismo naturalmente lento apresentar um surto momentâneo e degradar toda aquela glicose sem um pingo de aeróbico. Da mesma forma, a gente pula de galho em galho ou tenta a todo custo moldar o parceiro(a) na perspectiva de encontrar no outro a figura impecável e iluminada que os nossos olhos acreditam que é o amor.

    Estamos sempre frustrados, almejando a grama do vizinho que pela foto parece melhor do que a nossa, rodeados de incertezas sem um mínimo de fundamento em uma eterna busca por uma perfeição que apenas não existe. Não nos apaixonamos mais por pessoas. Pelo jeito de tocar, de sorrir, pela maneira como nos faz sentir essencial. Pagamos pelo “combo” à primeira vista e retornamos a embalagem quando nosso paladar detecta que a sucralose que deixa a receita teoricamente mais leve na verdade é açúcar (e engorda). Queremos que a nossa metade saiba cozinhar, seja organizada, pendure a toalha, goste de romances e de quebra seja esteticamente maravilhosa. Mas, e você, se garante?

    O mesmo check list ao qual submetemos alguém em algum momento também nos será aplicado. Nossos defeitos serão questionados, nossas falhas serão julgadas, seremos idealizados. E mesmo não passando em vários testes, mesmo levando tantos “nãos” ao longo da travessia continuamos sofrendo procurando por um padrão imaginário. Condicionamos a felicidade a uma lista de exigências e qualquer deslize fora dela já é motivo de sobra para desistir. O outro é que é o difícil, o complicado, o que não muda e não faz por onde, a culpa nunca é nossa. Só que na maioria das vezes ela é.

    Se o que o seu coração pede é um relacionamento de verdade, pés no chão e cabeça nas estrelas, sinto dizer que vai ter incompatibilidade sim. Discussões, dias de péssimo humor, rotina (o que pra mim nem é um palavrão), o saco vai encher, explodir e tornar a encher de novo. Enfim, sentar-se à mesa e encontrar a comida pronta, quentinha e cheirosa é muito fácil. Ninguém quer saber do trabalho que dá preparar os ingredientes ou limpar a sujeira dos pratos, panelas, copos e sentimentos (sim, cozinha-se com amor). Tem mancha que só sai da toalha de mesa depois da terceira lavagem, tipo mágoa sabe. É preciso persistência.

    A gente só troca o adereço por outro se mesmo depois de muito sabão clareador o respingo teimar em ficar agarrado ao tecido e ainda assim incomodar. Se a gente olha pra ela e vê que não tem solução em qualquer lojinha é possível comprar uma nova. Eu gosto de coisa com história. Lá em casa tá cheio de paninho manchado que na hora me deu um ódio da mão que derramou o molho de tomate, hoje é dor que se foi. São esses “trapinhos” que me lembram diariamente o que é o amor: estender a mesa, colocar os talheres, saborear as risadas, o afeto, a refeição, e recolher as sobras. Porque não importa o quão caro foi o jantar, existem os restos, e acredite, eles não minimizam o banquete.

    danielle-assinatura


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