• Atitudes valem mais do que palavras
  • Atitudes valem mais do que palavras


    Apesar de ser escritor, eu acredito muito na seguinte afirmação: atitudes valem mais do que palavras.

    Palavras bem escolhidas e organizadas são lindas e arrepiam a pele – confira os poemas de Vinicius de Moraes (ou Leminski) e compreenderá. Contudo, quando as palavras nunca vêm acompanhadas por ações capazes de validá-las, perdem totalmente o crédito. Ponto.

    O mundo está lotado de gente que vive a fazer promessas belíssimas, mas que, na hora de agir, causa apenas decepção. Falar “eu quero fazer com que seja a pessoa mais feliz desta galáxia” é extremamente fácil, qualquer dente de leite consegue. Fazer alguém feliz de verdade, no entanto, exige muito mais do que blábláblá. Exige mais “mão na massa” do que lero-lero. Exige, até mesmo, silêncios forçados que contrariam a nossa própria vaidade; boca que precisamos lacrar para não corrermos o risco de soltar uma frase cortante que, infelizmente, perdurará muito mais do que o passageiro momento de raiva.

    Tenho uma amiga que demonstra sinais de frustração porque é casada com um homem de poucas palavras, do tipo que só responde “eu te amo” com “eu também” e que, em datas especiais, sempre opta pelos cartões que já vêm com aquelas mensagens prontas e bastante genéricas. Ela vive a me dizer coisas como: “Gostaria que meu marido me dissesse mais o que sente, do mesmo jeito que eu faço”. Eu a entendo, sério; porque a minha namorada só falou que me ama uma vez. Na verdade, estava escrito em um balão de gás hélio que ganhei dela, o que me fez concluir que ela quis dizer isso. Enfim. Só sei que eu entendo a minha amiga. Entendo-a, porém, sempre que ela demonstra se sentir insegura pelas palavras que não recebe, faço com que ela comece a prestar mais atenção nos comportamentos do marido, como eu ajo quando me vejo diante de um incômodo gerado por palavrinhas que espero, espero, espero e… Não chegam! E funciona, se quer saber. Faço-a perceber que muita coisa é dita de maneira silenciosa, sem auxílio de sílabas, por meio de olhares carregados de compreensão e abraços que, por alguns segundos, fazem com que nos sintamos imunes a tudo, até mesmo a balas perdidas e à solidão azul do nosso tempo.

    Palavras são auxiliares na demonstração daquilo que se passa dentro de nós. Ótimas auxiliares, vale reforçar. No entanto, podem ser facilmente manipuladas por gente ruim; canalhas que as usam em vão e sem qualquer moderação. Com os gestos o lance é diferente: não é tão fácil imitar, por exemplo, o olhar que escancara a aflição que sentimos quando percebemos a nossa impotência perante a enxaqueca – ou outra dor – do ser amado. Compreende? E mesmo que consigamos fazer uma convincente simulação, à la Al Pacino, dificilmente seremos capazes de repeti-la com ar de veracidade por longos períodos, como é perfeitamente possível e simples de ser feito com um “quero seu bem” ou “me importo com você”.

    Ainda sobre o marido da minha amiga, aquele de poucas palavras: ele é um grande amigo meu, pessoa que conheço há décadas, e apesar de ser péssimo para expressar sentimentos, como já deve ter ficado claro, ele realmente ama a mulher. Ama mesmo. E faz tudo certinho, se é que me entende. Como eu sei? Tomo bastante cerveja com ele, oras. E no bar a verdade sai, não tem jeito. Verdade que ele, muitas vezes, não me diz de maneira direta ou com ajuda de palavras exatas; mas que, em certos comportamentos, fica nítida. Da última vez que saímos, por exemplo, ele não quis ficar muito no bar, como sempre faz. E nada – nem o “se ficar, eu pago uma porção de provolone” – foi capaz de convencê-lo. Ele dizia: “Não posso, cara. Hoje não dá. A patroa está meio triste com uns lances do trabalho. Prometi que chegaria cedo para ficar com ela”. Isso é amor ou não é? É sim. E é apenas um dos exemplos de atitude de um homem que, apesar de não se abrir muito, comporta-se de maneira muito mais honesta e respeitosa do que falastrões que conheço; gente que dispara lindos versos de amor eterno, mas que, quando a namorada vira as costas, chama a vizinha para sair. Ou pior.

    Eu amo as palavras. Mais até do que amo temakis e coxinhas. Contudo, preciso ser honesto com vocês e admitir que nem num léxico tão rico como o nosso existe palavra capaz de dizer o que berra um abraço daqueles que damos quando não sabemos o que falar para confortar alguém. Ou quando a pessoa está partindo e apertamos forte como uma sucuri porque desejamos mostrar o quanto sentiremos uma puta falta dela.

    E se sairmos um pouco dos relacionamentos e do amor, essa lógica (atitudes > palavras) ainda vale: de nada adiantará sair por aí dizendo que ama os animais se você, dois meses depois de tê-lo comprado, nem olha mais para cara do seu gato.

    Tanta gente compartilhando frases lindas no mundo virtual e agindo de maneira escrota no mundo real. Tô de olho!

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