Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida, foi onde me meter quando chamado naquele velho cabo de guerra que é o relacionamento alheio. Provavelmente você também já passou pela sinuca de bico de ter que opinar no relacionamento do seu melhor amigo – ou, pior ainda, opinar num relacionamento entre dois amigos seus. É sempre delicado demais porque qualquer coisa que você diga pode ser guardado para um futuro tribunal ou, dependendo da caça às bruxas, para a Inquisição da sua parcialidade.
Seus amigos vão sempre te contar apenas uma fatia da história: a parte que eles viveram. E toda moeda tem dois lados, não é? Pois bem. Aqui reside o perigo de opinar sabendo apenas o que te contam. A gente tem uma tendência muito forte de já reportar a história com uma decisão semi-formada na cabeça, ou seja, diremos coisas baseadas no que queremos ouvir. Se teu amigo te conta o que a namorada fez, provavelmente o episódio já virá com uma boa dose de parcialidade a fim de endossar uma opinião favorável ao que ele quer ouvir.
Além disso, existe o grande perigo da opinião sincera sobre a vida de alguém. Recentemente, por exemplo, um casal de amigos teve uma briga tão pesada que um deles saiu de casa. O outro, que é meu melhor amigo, me contou coisas horríveis que eu nem imaginava sobre o relacionamento dos dois. E é óbvio que a minha visão imparcial e de quem não está emocionalmente envolvido com a coisa toda foi a de dizer que ele tinha que cair fora dessa furada. Pra mim, relacionamento nenhum vale a nossa sanidade mental e integridade psicológica, principalmente quando descrevem um relacionamento abusivo para você. Eis que, dada a minha opinião de horas ao telefone, meu amigo decide conversar com a namorada e dizer absolutamente tudo que eu tinha dito a ele. No dia seguinte, acordo com alguns telefonemas e uma mensagem gigantesca da guria me mandando ficar de fora do assunto. Nunca mais nos falamos depois deste episódio, já que virei persona non grata na residência deles.
Moral da história: Geralmente, quando vamos opinar no relacionamento alheio, por mais que tentemos ser justos, nós vamos sempre acabar atravessando a percepção de uma das partes. Pode ser que o seu amigo te odeie depois do conselho sincero, pode ser que você diga o que ele não quer ouvir, pode ser até que ele te culpe pelo problema no namoro dele. Pode ser que a namorada queira te matar, que eles reatem e você saia como o babaca que queria vê-los separados e outras tantas possibilidades. Porque a pessoa que está vivendo o relacionamento é quem está emocionalmente envolvida com a questão, e não importa quão racional seja o seu veredito ou quão boa é a tua intenção. Sempre haverá a chance de dar merda e de você sair dessa com um amigo a menos (ou até com dois). Tem casal que adora viver nesse esquema de brigar e fazer as pazes. Não é uma forma saudável de se relacionar, mas essa percepção ter que vir deles. A gente não muda ninguém.
Eu sei que ser amigo não se resume a passar a mão na cabeça e concordar com tudo o que o outro vive. Mas, em alguns casos, temos que ter a noção de que o outro possui autonomia e já é grandinho o suficiente para tomar suas próprias decisões (tirando, é claro, casos de abuso onde você nota claramente que a pessoa precisa de ajuda). Isso não significa se isentar da sua amizade, mas aprender que todo jogo de cabo de guerra tem apenas dois lados, e você naturalmente não pertence a nenhum deles.