• Já passei da idade de gostar  de amores enrolados
  • Já passei da idade de gostar


    de amores enrolados


    Depois de alguns anos achando o máximo aquele tipo de paixão arrebatadora de quem não dá certeza nenhuma pra gente, eu percebi que a gente evolui e dispensa certos tipos de gente. É uma coisa natural: quanto mais velhos (ou mais experientes) em relacionamentos ficamos, mais o nosso tipo de amor ideal muda.

    Aos 14, provavelmente, eu amava a euforia de saber que alguém me esperava pra passar madrugadas no MSN ou na porta do colégio. Aos 18, era alguém da turma ao lado no cursinho de medicina. Aos 20 e poucos, era aquela pessoa que despertava admiração e tesão com um sexo bom seguido de um papo bacana com café. É bem provável que o meu tipo de amor aos 15 não se encaixasse em nada com o tipo de amor que eu queria aos 18 e por aí vai. A gente cresce.

    Mais perto dos vinte e tantos, percebi que um novo tipo de amor não cabe mais na vida: os amores enrolados. Geralmente são homens assustadoramente charmosos que fazem algo bacana na vida e mostram uma paixão absoluta pelas coisas do mundo. Ensinam uma coisa ou outra sobre cultura, ouvem músicas que eu não conheço, falam de filmes que eu nunca vi, mesmo eles tendo passado duzentas vezes na Sessão da Tarde. Nem é o tipinho cult, é o tipinho interessante que tá de passagem pela vida. Infelizmente, em 80% dos casos, o tipo também acompanha uma personalidade expansiva e volúvel que não quer firmar raíz em lugar nenhum do mundo.

    É o típico cara confuso que vai entrar na tua vida só pra gastar energia. Ele tem uma vida movimentada, não pára nunca, tem mil coisas desajustadas no passado que retornam a cada semana com uma ponta solta diferente. Ele é um caos emocional, por mais interessante que seja, mas não sabe lidar com isso sem envolver outras pessoas na confusão dele. E pode ser uma delícia ter uma história dessas se você tiver se aventurando também, ou se tiver escrevendo um romance, ou se só quiser enlouquecer com alguém, mas pra qualquer outra alternativa, o que ele oferece não é intensidade, é instabilidade emocional mesmo.

    Ele vai te arrastar pra situações dolorosas e pesarosas, possivelmente causadas pela forma descompromissada com que ele lida com a vida. Nunca vai te dar certeza de nada, por mais apaixonado que ele pareça por você. E vai te fazer gastar energia pra caramba, botar esforço pra caramba, viver uma coisa que faz o teu coração acelerar e a conta dos teus médicos ficarem mais caras. Ele é uma delícia, só não vai te fazer bem. E será que não chegou hora da gente escolher amores que nos façam bem em vez de nos fazer pirar?

    É legal pra caramba quando me lembro do estômago embrulhado na adolescência, das noites viradas e loucuras do início da vida adulta, mas hoje em dia eu prefiro alguém que tenha alguma certeza na vida. Não precisa ter certeza quanto à carreira, onde quer morar, o que quer fazer da vida, mas porra, que pelo menos tenha certeza de que me quer e que gosta de mim, não é? Caso contrário, eu vou acabar sendo só mais uma página ilustrada dos relacionamentos passados dele. E ele? Ele vai acabar sendo uma caixinha de novalgina que não vai mais sair de cima do meu criado mudo.

     daniel


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