Aceitar as pessoas como elas são é talvez uma das maiores dificuldades dos relacionamentos. Isso porque a parte boa vem inquestionavelmente de bom grado, mas a ruim sempre rola aquela expectativa marota de que com o passar do tempo tudo vai se ajeitar. De fato, a tendência é que os trilhos entrem nos eixos sim. Não porque o outro mudou, “melhorou” ou, como muitos gostam de dizer, virou outra pessoa. Tempo e paciência são excelentes aliados quando se quer de verdade ajustar o relógio da parceria. A questão é que se você precisa acreditar numa possível transformação para ter fé de que tudo pode funcionar ou a relação está completamente errada ou os seus conceitos estão ligeiramente equivocados.
Somos diferentes Fim. Você é agitada, impulsiva, ansiosa, imediatista e tendenciosamente dramática. Ele é calmo, sistemático, paciente, tranquilo e tem ritmo próprio. Querer modificar a dinâmica que provavelmente foi a razão desta união além de inorgânico é irracional. Vai absurdamente contra a individualidade e a liberdade de ser de quem está ao nosso lado. A beleza desta escolha que é estar de mãos dadas com alguém repousa justamente naquele abraço gostoso que a gente dá nas diferenças do outro. E que delícia se sentir confortável e em casa no abrigo de quem chamamos de amor. Que prazeroso é saber que somos bem recebidos numa vida que agora é meio nossa.
Sem julgamentos, repressões, dedos apontados ou sorrisos desconcertados. Sem ouvir que estamos fora dos padrões por não respondermos mecanicamente aos prazos da sociedade, sem receber recriminações por lidar de uma forma distinta com determinada situação, sem brigar desnecessariamente simplesmente por discordar de alguma coisa. Ser o que somos e sermos acolhidos exatamente por isso. Imagina que louco uma parceria com este nível de cumplicidade e aceitação?! Pois é como todos nós companheiros deveríamos ser. Parceiros no sentido literal mesmo da palavra: lado a lado “apesar de”.
Chega de tentar manipular o outro para que ele se torne uma cópia perfeita do que você espera. Alguém com os seus predicados já existe: você! Para que tentar forçar as suas opiniões sobre outra pessoa? Entendam-se, ajustem-se, aceitem-se. E talvez o mais importante: aprendam com as diferenças. Sejam empáticos com a travessia de quem veio de longe para caminhar com você. Se o descompasso é insustentável melhor mesmo seguir adiante. Mas, se o que está faltando é tato e paciência respira bem fundo e troca a bateria desse relógio.
Um ponteiro não fica questionando porque o outro é maior ou se movimenta mais, eles possuem o objetivo em comum de marcar as horas para manter o compasso do dia e só. A mínima tentativa de competição entre eles travaria a maquinaria e o tic tac bonito em harmonia deixaria de funcionar. Seja e deixe ser. Ame e se permita ser amado. Nada é tão lindo quanto os primeiros raios de sol pela manhã nos dizendo que a corrida noturna pelos minutos estava alinhada. Cada ponteiro, com o seu passo diferenciado, estava certo, estava em tempo. É hora de acordar. É hora de descobrir de verdade o que é ser dois.
