• É Muito Mais Fácil Esquecer O Próprio Passado  Que O Passado Do Outro
  • É Muito Mais Fácil Esquecer O Próprio Passado


    Que O Passado Do Outro


    Há alguns meses, um amigo disse uma frase que perdura, até hoje, na minha cabeça. Sua simplicidade apenas não me assustou mais do que sua objetividade e clareza: “É muito mais fácil esquecer o próprio passado que o do outro”.

    Depois do breve, fútil e escorpiano pensamento “Cacete! Por que eu não pensei nisso antes? Agora precisarei dar os créditos” – natural de todo escritor, parei para pensar nas implicações dessa verdade – e até o momento que escrevo o texto, não cheguei a uma conclusão. Por isso peço licença não apenas para invadir novamente seu dia, mas para fazê-lo de forma diferente: não como uma crônica, tampouco como a minha coluna-sem-periodicidade-definida aqui no Casal Sem Vergonha. Encare isso como um bate-papo – até porque na vida real é assim: eu falo muito, sem parar.

    O ponto é: quando mergulhamos em uma relação com outro alguém, adquirimos o pacote inteiro: os momentos a sós, uma nova família, um novo círculo de amigos e o temido passado alheio. Aquela pessoa é maravilhosa, incrível, mas ela tem um passado. E a chance dele te assombrar é altíssima.

    É aí que eu te pergunto: você se lembra tão bem das suas histórias afetivas?

    Explico: com uma frequência cada vez maior, alguns detalhes teimam em me fugir à memória. Vez ou outra, em conversas aleatórias sobre o sexo oposto e minhas experiências de tempos atrás, me perco em busca de um nome ou uma situação, independente da importância das pessoas e histórias em questão na minha vida amorosa, sexual ou seja-lá-como-você-gosta-de-chamar-o-conjunto-de-pessoas-por-quem-você-se-apaixonou-trepou-ou-apenas-trocou-olhares-no-metrô. A vida é sua, afinal de contas.

    Ainda assim, quando se trata do outro que amamos, a coisa muda de figura. Porque, e esse pensamento é inevitável, queremos que aquela pessoa ame apenas a nós. Seja por um conservadorismo imposto pela sociedade desde seus primórdios, pelo cinema, por birra ou por aquela sua tia chata, muitas vezes a simples menção de alguém que existia antes de você é aterrorizante.

    Não apenas no que diz respeito a amor.

    Ela era mais bonita?

    Ele tinha um corpo mais definido?

    Ela gostava dos mesmos filmes que você?

    Ele tinha o pau maior?

    Ela era melhor na cama?

    Somos todos hipócritas porque, a não ser que você ainda esteja experimentando seu primeiro parceiro sexual, você também tem um passado. E por mais que você repita, incansavelmente, que são coisas diferentes, não são.

    É preciso mudar a lente com a qual enxergamos as outras pessoas – aquelas que amamos e aquelas que já foram amadas por nosso par. Apenas entendendo e aceitando que só estamos aqui hoje (eu daqui, você daí) porque vivemos todo o resto que nos trouxe a esse momento, conseguiremos plenitude. Pelas nossas histórias do passado, gratidão – pelos erros cometidos e lições aprendidas. Por cada lágrima derrubada e sorriso distribuído. Por cada broxada desgraçada e cada gozada bem dada. Se hoje temos orgulho em olhar para frente é porque não sentimos falta do que ficou para trás.

    Que seja assim até não existir mais lugar para caminhar – e que, quando esse dia chegar, tenhamos orgulho de tudo que foi vivido – sem vergonha nenhuma.


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